Fim de Caso, do inglês Graham Greene (1904-1991), é um romance sublime. É um daqueles casos raros de livro em que você faz descobertas novas a cada leitura. Lançado em 1951, e há alguns anos transformado em filme, Fim de Caso tem lugar de gala na lista dos melhores romances do século XX.
A essência de Greene está, toda ela, neste livro: o lirismo cético e melancólico, a fé ao mesmo tempo intensa e questionada em Deus, o humor doce e amargo. Maurice, o personagem central, é um escritor. Ele se apaixona por uma mulher casada, Sarah, e é correspondido. O detalhe é que Maurice era amigo do marido.
Como o título sugere, o livro trata do epílogo do romance. Sarah abandona Maurice e ele, atormentado de ciúme, desconfia que ela tenha optado por um novo amante. O que ele vai perceber só no fim é que esse novo amante chama-se Deus.
Greene foi comunista (sem convicção) na juventude. Adulto, converteu-se ao Catolicismo. Mas seu Catolicismo nada tinha de convencional. Numa de suas autobiografias, ele conta uma passagem que mostra sua personalidade incomum: num período de tédio, ainda moço, Greene fez roleta russa.
Uma bala num tambor que comporta seis, a sorte lançada. Nada aconteceu. Fez outras quatro vezes, ao correr dos dias. Nada. Mas decidiu dar uma última oportunidade à bala, para que ficasse empatado o jogo: seis a seis. Nada. E então ele tocou a vida. E construiu uma pirâmide literária.