Enrolado no caso Covaxin e outros, Ricardo Barros é conterrâneo de Moro, inimigo do SUS e tomou ovada no casamento da filha

Atualizado em 26 de junho de 2021 às 11:32
Ricardo Barros e Jair Bolsonaro

Após ser pressionado pelos senadores na CPI, o deputado Luis Miranda afirmou que Bolsonaro citou o nome do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), como envolvido no esquema da compra da Covaxin.

Alessandro Vieira (Cidadania-ES) comunicou à presidência da comissão que apresentará um convite ou convocação de Barros para dar explicações.

Eminência do centrão, Barros sempre foi enrolado. É a velha política clientelista e corrupta cuspida e escarrada, aquela que Jair Bolsonaro prometeu combater.

Elegeu-se pela primeira vez em 1995 e passou por PFL, PPB e PP.

Entre 2016 e 2018, foi ministro da Saúde do golpista Michel Temer, deixando o cargo para disputar as eleições de 2018, quando foi reeleito deputado federal.

Foi líder do governo de Fernando Henrique Cardoso e vice-líder no de Lula.

É conterrâneo de Sergio Moro de Maringá, no Paraná. Formado em engenharia civil, é filho do ex-prefeito da cidade, Silvio Magalhães Barros, já morto.

Sua indicação como líder do governo Bolsonaro foi patrocinada por Arthur Lira, presidente da Câmara e cúmplice do genocídio.

Em setembro do ano passado, seu escritório foi alvo de mandado de busca e apreensão. O MP-PR investiga o pagamento de R$ 5 milhões em propina a ele em uma negociação envolvendo a contratação de energia eólica por parte Companhia Paranaense de Energia (Copel).

Segundo a apuração, Barros intermediou a compra de ativos da empresa São Bento Energia, controlada pela Galvão Engenharia, por parte da Copel nos anos de 2011 e 2014, quando secretário de Indústria e Comércio do Paraná.

Em 2018, quando era da equipe de Temer, atacou o SUS: “financiava doença e não saúde”. Sugeriu uma redução do tamanho da saúde pública no país. Sobreviveu à covid-19.

O casamento de sua filha Maria Victoria em Curitiba ficou famoso pelas ovadas despejadas por manifestantes. O professor Marcos Danhoni, também maringaense, escreveu sobre o episódio e sobre a saga dos Barros no DCM:

A triste aventura dos Barros começa com o patriarca, Silvio Barros, que foi prefeito de Maringá pela Arena, aliada do regime militar. Ricardo Barros herdou-lhe a veia política, assim como seu irmão Silvio Barros II (isso mesmo, a coisa é tão ridícula que o ultimo sobrenome é o algarismo “II” romano…).

Foi prefeito. Aliás, um desastrado prefeito. Seu último dia de governo terminou com a prefeitura de Maringá cercada por funcionários irados em greve. Ricardo Barros escapou do cerco com uma “tereza” (corda feita de lençóis como aquelas usadas por presidiários em fuga). 

Após uma interrupção de dois mandatos, seu irmão, Silvio Barros II, tornou-se o terceiro do clã a eleger-se prefeito (sendo reeleito e fazendo seu sucessor). Assim, os Barros tomaram a cidade por longos 20 anos.

Sua esposa, Cida Borghetti, uma curitibana importada, fez toda sua plataforma política baseada em campanhas contra o câncer feminino, o que lhe angariou votos para toda a vida … O mesmo ocorreu com sua filha Maria Victoria Barros, formada em “banqueteria” (a “arte” de servir banquetes) na Suíça (believe it not).

Cida tornou-se vice-governadora ao lado do desastrado e multi-investigado governador Beto Richa. Ricardo Barros, que fez toda a campanha de Richa no norte e noroeste do Estado, foi brindado como Secretário de Indústria e Comércio do Paraná.

Ricardo sempre trabalhou no sentido de priorizar o privado sobre o público e notabilizou-se no setor de planos privados de saúde, o que o guindou à condição de escolha do usurpador Temer em nomeá-lo como Ministro da Saúde, desconstruindo toda a estrutura pública de saúde, implantando o caos e a barbárie no SUS, na Fiocruz, na saúde indígena, na produção de medicamentos, etc.

O então ministro Ricardo Barros, da Saúde, e o chefe Michel Temer

O clã locupletou-se nessa trajetória política de conservadorismo, e nenhum senso público, o que transpareceu de forma dramática na festa nababesca de casamento da filha banqueteira Maria Victoria Barros.

Sempre com espírito arrogante, Ricardo Barros escolheu ele próprio os lugares do regabofe matrimonial: uma Igreja histórica, a do Rosário, construída pelos escravos e o Palácio Garibaldi, construído sob a égide dos ideais de Garibaldi.

Ricardo Barros quis para mostrar que ele pode submeter tudo e todos ao seu projeto megalomaníaco de dominar politicamente o Estado, que considera um feudo de sua família e que se sobreporá às demais famílias das capitanias hereditárias. Uma espécie de Game of Thrones tupiniquim!

Bom, retornando ao dramático episódio do casamento e da festa de Maria Victoria no sábado de 14 de julho (no aniversário da Queda da Bastilha): esta data foi escolhida a dedo para mostrar que Maria Victoria seria uma reencarnação de Maria Antonieta, mas que, ao contrário, venceria e manteria a Bastilha, aniquilando os “pretos” construtores da Igrejas, e os anarquistas garibaldinos, numa metáfora cruel de “venceria o povo.

Porém, os sonhos totalitários de Ricardo Barros e de todo seu clã ruíram fragorosamente: cercados por mais de mil manifestantes, Maria Victoria teve sua “noite gloriosa” derrotada pela indignação popular. Seu vestido ficou todo manchado de ovos, lixo de toda espécie e outros líquidos malcheirosos.

Minha mãe telefonou hoje para uma amiga e recebeu a informação que uma vizinha dessa amiga tinha estado na malfadada festa. Ainda estava em estado de choque.

Disse que os manifestantes tiveram roupas, cabelos, maquiagens arruinados. O clima dentro do salão de festa no Palácio, segundo o relato da vizinha da amiga, era de terror (semelhante ao que foi tomado por Maria Antonieta e seus lacaios na distante corte francesa).

Além do medo, muitos estavam raivosos por causa da incompetência Barrista ao escolher local inapropriado para desfilar sua “jacuzice” e soberba. Ela relatou que alguns jovens, filhos da aristocracia decadente curitibana, brigavam com seus pais repreendendo-os em voz alta por terem amigos envolvidos em corrupção que os convidavam para este festim diabólico.

Uma parcela deles lamentava ter que acompanhar os pais conservadores, quando queriam estar junto com os manifestantes jogando ovos e porcariadas na burguesia podre que eles próprios representavam.

Some-se a esse desalento todo o fedor de ovo, urina, lixo e outras cacas mais que tomou conta do ambiente. De tempos em tempos era aspergido perfumes franceses para mitigar a pestilência do cheiro.

Ricardo Barros, para não perder o tino, mandou arrumar os parentes mais próximos para a foto do álbum e colocou um pseudo-jornalista velho a filmar e narrar uma mesa nababesca com quitutes proibidos a 99% da população brasileira.

O festim diabólico, misto de Baile da Ilha Fiscal com a Queda da Bastilha, terminou de forma melancólica, com a burguesia fedendo em seu mais profundo ser e lançando seus pruridos a todo o país hoje dominado pela vergonha de um golpe torpe e quase surreal.