Quais são os políticos, partidos e movimentos que ajudaram a eleger Bolsonaro e agora pedem impeachment

Atualizado em 7 de julho de 2021 às 15:51

POR VICTOR GASPODINI

Chamou a atenção a presença de militantes do PSDB no ato contra Bolsonaro no último sábado (03/07), em São Paulo. É a primeira vez que um partido fora do espectro da esquerda ou centro-esquerda participa dos protestos, que estão sendo convocados nacionalmente desde o dia 29 de maio, por partidos de esquerda, centrais sindicais, movimentos sociais e as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo.

Os tucanos levaram para a Avenida Paulista faixas com o 45 e bandeiras utilizadas na campanha de 2020 de Bruno Covas à prefeitura de São Paulo. Segundo o presidente municipal do partido, Fernando Alfredo, cerca de 1.500 filiados participaram da manifestação, presença que causou revolta em militantes do PCO, que partiram para a agressão, conforme noticiou o DCM.

Apesar da posição oficial do PSDB ter sido de neutralidade no segundo turno de 2018, entre Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (então filiado ao PSL), o partido não impediu que lideranças com grande peso eleitoral à época fizessem campanha para Bolsonaro. Foi o caso de João Doria, Eduardo Leite e Reinaldo Azambuja, então candidatos e hoje governadores de São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.

O PSDB de São Paulo, que agora encoraja seus filiados a ir para as ruas, não viu problema na estratégia de marketing de Doria ao juntar seu nome com o do presidenciável do PSL, criando o “17BolsoDoria45”, mesmo que sem ser correspondido por Jair. O governador paulista, que é pré-candidato a presidência em 2022, agora faz oposição aberta a Bolsonaro, já o chamou de genocida e o multou pelo não uso da máscara de proteção.

Eduardo Leite, também pré-candidato ao palácio do planalto e que deve disputar as prévias tucanas contra Doria, oficializou seu apoio a Bolsonaro no segundo turno de 2018 de forma mais discreta. Atualmente, admite ter sido um erro, mas limita sua oposição a dizer que não votaria novamente em Bolsonaro e que há fatos graves para o processo de impeachment. Ainda assim, não deixa claro que defende o impedimento.

Reinaldo Azambuja, governador do Mato Grosso do Sul pelo PSDB, divulgou um vídeo em 2018 em que correligionários expressaram seu apoio a Bolsonaro. Dos tucanos com relevância, apenas Alberto Goldman, ex-governador e ex-ministro, falecido em setembro de 2019, declarou o voto em Haddad (PT).

Além de Doria e Leite, outros dois pré-candidatos à presidência devem explicações sobre suas ações em 2018: Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Sérgio Moro (sem partido). A contrariedade do ex-ministro da saúde ao governo de Jair Bolsonaro se deve principalmente à condução da pandemia. Durante sua trajetória política, no entanto, Mandetta apoiou cortes de verbas no SUS e o fim do programa Mais Médicos, posições compartilhadas pelo presidente.

Poucas figuras foram mais importantes para a eleição de Bolsonaro em 2018 do que Sérgio Moro, que deixou o governo em abril do ano passado após denunciar interferência de Jair na Polícia Federal. O ex-juiz foi um dos responsáveis pela prisão e ilegibilidade de Lula, quando o ex-presidente liderava as intenções de voto na corrida de 2018. Depois de tirar o principal candidato da disputa, a recompensa de Moro foi um ministério no governo eleito. Em dezembro de 2020, quando já tinha deixado o cargo, ele chegou a perguntar se havia presidente em Brasília. Apesar da suposta oposição, nem Moro e nem Mandetta pedem o impeachment de Bolsonaro.

Joice Hasselmann e Jair Bolsonaro Foto: Reprodução

Kim Kataguiri, filiado ao DEM e um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL), foi um dos direitistas a assinar o “superpedido” de impeachment, apresentado no dia 30 de junho, liderado por partidos, parlamentares e forças de esquerda, que reuniu todos os crimes cometidos por Jair Bolsonaro até agora. O deputado de 25 anos e o movimento que ele lidera deram enorme sustentação ao então candidato do PSL em 2018, tendo declarado voto ainda no primeiro turno.

Apesar da assinatura, o MBL declarou que não pretende participar dos protestos de rua por não se sentir seguro. Em 2018, Kataguiri chamava movimentos sociais de “grupos terroristas”, disse que Haddad aparelharia as instituições e levaria o Brasil ao totalitarismo, dava discursos sobre doutrinação de esquerda nas escolas e classificou como “maravilhoso” o plano econômico de Paulo Guedes.

Já no segundo turno, membros do MBL (Kataguiri, Arthur do Val – conhecido como “Mamãe Falei” – e outros) aparecem em um vídeo de apoio na casa de Bolsonaro, no dia 23 de outubro de 2018, junto de políticos recém-eleitos do partido NOVO (os deputados federais Marcel van Hattem e Vinicius Poit). O vídeo é em tom descontraído e em meio a risadas e piadas sem graça, Bolsonaro agradece o apoio do MBL e do NOVO.

O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), tece críticas a Bolsonaro quase diariamente em suas redes sociais e disse recentemente ao Páginas Amarelas, da Revista Veja, que o centrão deveria “romper definitivamente” com o presidente. No entanto, em 2018, Maia declarou voto em Jair Bolsonaro e se comprometeu a pautar a lei do armamento para ganhar apoio a sua reeleição a presidência da Câmara. Em 2019, ele trabalhou fervorosamente pela aprovação da reforma da previdência de Bolsonaro e entregou o projeto para Davi Alcolumbre, então presidente do Senado, chorando de emoção por ter conseguido a aprovação dos deputados.

Joice Hasselmann (PSL) e Alexandre Frota (PSDB), eleitos para um cargo público pela primeira vez em 2018 aproveitando-se da onda Bolsonaro, também não demoraram para pular do barco. Dizendo que queria ser “o Bolsonaro de saias”, Joice foi a segunda deputada mais votada e chegou a ser líder do governo na Câmara. Frota se encontrou diversas vezes com Bolsonaro na pré-campanha, pediu votos e recebeu o apoio do atual presidente.

Tanto Joice, como Frota, assinaram o super impeachment no último dia 30 e fazem oposição aberta há alguns meses. O ator já declarou que o presidente não liga para o número de mortes e que a atuação do governo no combate a pandemia é burra e sem noção. Falou que Bolsonaro é uma doença da mesma gravidade da Covid e defendeu a obrigatoriedade da vacinação. Joice Hasselmann já chamou Bolsonaro de ogro e cavalo e no início deste mês, em live no DCM, a deputada colocou em dúvida a facada sofrida por ele na cidade de Juiz de Fora, em setembro de 2018.

Ontem (5), o partido NOVO divulgou uma nota se posicionando a favor do impeachment de Bolsonaro. Segundo o texto, a sigla concluiu “após análise técnica, consultas a juristas, discussões e ampla reflexão” que o presidente cometeu crimes de responsabilidade. O partido, que se apresenta como “renovação” da política, votou favoravelmente a projetos do governo em 86% das oportunidades, segundo o site Congresso em Foco, que mede o índice de “governismo” dos parlamentares.

O deputado federal Vinicius Poit (NOVO), que é líder do partido na câmara e atualmente faz críticas ao governo nas redes sociais, é um dos que aparece no vídeo de outubro de 2018 ao lado de líderes do MBL, na casa de Bolsonaro, declarando apoio a ele no segundo turno. Apesar das atuais críticas, Vinicius votou a favor do governo 86% das vezes, segundo o Congresso em Foco. O outro deputado do NOVO que aparece no vídeo, Marcel van Hattem, também tem 86% de “governismo”.

A sustentação que o partido de cor alaranjada deu a Bolsonaro nas eleições de 2018 foi tamanha que o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (NOVO), uma das principais lideranças e primeiro governador eleito pela sigla, pediu voto para Bolsonaro ainda no primeiro turno, quando o partido tinha candidatura própria. No segundo turno, Zema reiterou seu apoio e só parou de fazer menções elogiosas ao presidente há pouquíssimos meses.

Romeu Zema, governador de Minas, e o presidente Jair Bolsonaro

Em janeiro desse ano, Romeu Zema disse ao jornalista Humberto Martins, do jornal Estado de Minas, que considerava Bolsonaro “uma pessoa bem-intencionada”. Em março, o governador de Minas Gerais se negou a assinar duas cartas contra o presidente e em abril, disse a jornalista Fernanda Canofre, da Folha de S. Paulo, que “Bolsonaro poderia ter capitaneado a crise, mas que há certa perseguição a ele”. Somente em junho, o governador do NOVO declarou que a postura de Jair não ajudava no combate à pandemia.

O banqueiro João Amoêdo (NOVO), que foi o candidato da sigla à presidência, também declarou voto a Bolsonaro no segundo turno e afirmou em novembro de 2018 para o jornalista Wellington Ramalhoso, do UOL, que o partido seria “independente e vigilante”. Em março de 2020, Amoêdo disse ao Estadão que não se arrependia do voto. Atualmente, ele faz críticas fortes ao governo e pede abertamente o impeachment, embora não tenha assinado o “superpedido”.

Além do NOVO, outros índices de “governismo” interessantes, segundo o Congresso em Foco, são o do DEM, com 91%, do Patriota, com 95% – partidos que abrigam membros do MBL – e do PSDB, que apesar de frequentar a última manifestação e já ter declarado que continuará participando dos atos, votou favoravelmente ao governo em 87% das votações no Congresso.