Originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES
Por Moisés Mendes
Bolsonaro pode sair do hospital pela manhã e à noite tirar foto comendo feijoada ao lado de Braga Netto. Pode ir para a cerquinha na segunda-feira e voltar a dizer besteiras sobre o voto impresso. Pode até mostrar que ainda pode puxar um desfile com meia dúzia de motoqueiros.
Mas Bolsonaro nunca mais será o mesmo que já não era antes de ser internado. Por questões de saúde do corpo, da alma e da política, Bolsonaro hoje é um traste.
A cada episódio em que se fragiliza publicamente, o sujeito tenta se apresentar como um ressuscitado. Não vai funcionar sempre, muito menos em meio aos estragos da CPI do Genocídio.
Bolsonaro está perdendo muito das qualidades do seu histórico de atleta e se consagrando, até mesmo pela imagem física, como uma gambiarra que vive seus últimos momentos.
A direita, já em ritmo de 2022, entusiasma-se com a degradação de Bolsonaro e, mesmo ainda contida, passa a torcer mais do que as esquerdas para que o sujeito esteja logo fora do jogo.
O fim de Bolsonaro remobiliza quem já havia desistido. Sergio Moro avisou aos amigos da imprensa que voltou a frequentar a alta sociedade da direita em Brasília e São Paulo.
Todos os dias tem notinha sobre as conversas de Moro com partidos que podem acolhê-lo. É um pangaré que nunca conseguiu sair do mesmo lugar na série B das pesquisas, mas agora está enxergando outras circunstâncias, desta vez sem Bolsonaro.
Não interessa se Bolsonaro será expelido logo ou se irá até a campanha de 2022. Importa que Bolsonaro é um pato manco sem condições de continuar blefando com o golpe.
Mesmo Luciano Huck, se quiser, pode voltar a jogar, considerando-se que Eduardo Leite parece não ter forças para ser uma das alternativas da cara nova da terceira via.
Até Rodrigo Pacheco, que era apenas o engavetador da CPI do Genocídio, está aí, dando entrevistas e dizendo que a militarização do governo por Bolsonaro é uma coisa “natural”.
Pacheco seria a surpresa do centro gasoso e disforme, mas prefere antes fazer média com os generais e a clientela de direita que ainda dá suporte a Bolsonaro.
Luiz Eduardo Mandetta e João Doria são os fracotes do centro e dificilmente tiram proveito de um cenário com Bolsonaro sequelado. Ciro Gomes quer ser o novo fortão nessa faixa do campo.
Ciro deixou claro, em entrevista recente a Roberto D’Avila, na GloboNews, que o seu espaço de disputa é o da direita encabulada, a que fuma Bolsonaro desde 2018, mas não traga.
Ciro disse a D’Avila: “O Brasil não cabe no gueto de esquerda, muito menos de uma esquerda confusa, como é a esquerda petista ou pisolista ou pecedobista, que é a mesma coisa”.
O neotrabalhista optou por atacar descaradamente Lula, o PT, o PSOL, o PCdoB e tudo que se mexer à esquerda de onde ele se posiciona. E Ciro se posiciona eleitoralmente (apesar do discurso) à direita de Mandetta, de Huck, de Doria e talvez até de Sergio Moro.
Não há, para nenhum deles, como disputar espaços que Lula ocupa do centro para a esquerda. A única chance para essa turma hoje é ficar com as migalhas da direita desamparada que correu em 2018 para o colo de Bolsonaro.
Todos os que torcem pelo fim de Bolsonaro querem o espólio do pouco que sobrar, se sobrar alguma coisa, da classe média que usou o fascista como salvação contra o PT e agora o abandona.
Se os candidatos de ‘centro’ vencerem Bolsonaro, tentarão se virar com o que for possível, contando com o imponderável de uma disputa de segundo turno. O esforço é para tirar Bolsonaro do jogo de qualquer jeito e se habilitar a enfrentar Lula.
Se a retirada do Centrão for antecipada, se o lastro militar for abalado pelo envolvimento cada vez maior dos coronéis das vacinas e se a CPI voltar com toda a força, no dia 3 de agosto, Bolsonaro pode ser mais do que um traste que ainda anda e irá tombar.
Tentará se levantar, com a ajuda de Braga Netto ou de quem estiver por perto, nunca se sabe, mas já estará imprestável. Hoje, não há feijoada que salve Bolsonaro.