Na semana passada, o Conanda, Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, aprovou uma resolução que ainda vai render muito barulho. O texto diz que “a prática do direcionamento de publicidade e comunicação mercadológica à criança com a intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço” é abusiva e, portanto, ilegal, segundo o Código de Defesa do Consumidor.
Entidades contra e a favor estão trocando números e dados com ferocidade. As associações de anunciantes defendem a autorregulamentação e acusam interferência indevida do estado. Aumento de obesidade e pesquisas comprovando a influência dos filhos no consumo da família são utilizados como contra-argumentos. O DCM tratou do assunto aqui.
Problemas complexos exigem soluções complexas (quem diz o contrário está mentindo). O debate é amplo. E aí entrou mal o nosso querido Maurício de Sousa.
Maurício postou em sua página no Facebook a foto de uma criança segurando um cartaz com as palavras: “Eu tenho direito de assistir publicidade infantil. A televisão, não é só para os adultos. Alguém sabe quais produtos infantis lançaram por esses dias?”
Era, supostamente, uma fã dele. Foi um golpe baixo. Fora tudo, é estranhíssimo uma menina se dar ao trabalho de escrever numa cartolina que quer assistir mais comerciais. Algum adulto ditou aquela manifestação “espontânea”? Ou era uma espécie de minichantagem?
Maurício foi espancado virtualmente por seus seguidores. Mais tarde, ele acertadamente removeu a foto e fez um mea culpa: “Há mais de 40 anos, minha empresa faz, sim, publicidade de produtos que levam a marca dos meus personagens. Sempre de maneira responsável e criteriosa, porque nossa preocupação constante é o respeito à criança. Inclusive, nossa revista de maior tiragem até hoje, o Estatuto da Criança e do Adolescente, foi distribuída gratuitamente para mais de 26 milhões de famílias no Brasil”, escreveu.
“Sempre trabalhei para o público infantil. Em milhares de campanhas, ações sociais, revistas, peças de teatro, filmes de TV e cinema e também produtos. Penso que é justamente por isso que meus personagens são tão queridos há mais de quatro gerações. Assim, a fim de evitar mal-entendidos, optei por deletar a imagem que postei mais cedo”.
Mas Maurício não parou ali. Nas redes sociais, continua criticando o veto — o que é, evidentemente, direito dele. O problema são os argumentos, desnecessariamente fatalistas e, eventualmente, histéricos. “Proibição vicia. Induz à sensação do poder. Começa por um segmento. Depois se irradia”.
Ok. Irradia para onde? Por quê? “No rastro da proibição da publicidade infantil que se cogita virão a desinformação, a retração da indústria, o desemprego. A quem interessa?”, pergunta.
Maurício precisa agir com transparência. Tem de deixar mais claro seu interesse comercial no caso — que é legítimo, repito. O licenciamento da Turma da Mônica é responsável, hoje, por 90% de seu faturamento. O resto são as vendas das revistas. A turma está em sucos, produtos da Perdigão, miojo etc. São 3 mil produtos que, segundo o Estadão, rendem 2,7 bilhões de reais por ano.
Os gibis (aliás, lidos pelo meu filho Antônio) já não são o carro chefe. Maurício chegou a reclamar do “politicamente correto”. Justo ele, que jamais foi um iconoclasta. Aliás, muito pelo contrário. Personagens adultos não fumam, não bebem, não nada. O velho Cascão foi obrigado a tomar banho em sua versão teen.
A publicidade infantil não é assunto de criança e Maurício tem muito a acrescentar. Gritar “censura!” e publicar fotografias de meninas de 10 anos portando cartazes absurdos não ajudam em nada sua própria causa.