A CPI da Petrobras é uma das maiores palhaçadas da vida política, econômica e jornalística nacional dos últimos tempos.
O perfeito desfecho, nesta primeira etapa, tinha que ser mesmo a entrega da decisão do formato da CPI para o STF.
Mais especificamente, para a ministra Rosa Weber, que se notabilizou no julgamento do Mensalão por dizer que se julgava apta a condenar Dirceu mesmo sem provas.
A oposição defende uma CPI focada na Petrobras. O governo quer estender a investigação para outros assuntos, como o escândalo do metrô de São Paulo.
Alguém tem dúvida sobre a decisão de Weber?
O Mensalão deixou claro como o STF é hoje muito mais um tribunal político que jurídico, e então já podemos antever o que dirá Rosa Weber com altíssima chance de acerto.
Escrevi, recentemente, que a CPI da Petrobras é o novo Mensalão, e repito isso agora.
Mais uma vez, o papel da mídia é decisivo. Não importa informar, não importa esclarecer: a missão da imprensa é criar um clima que leve a uma CPI feita apenas para atrapalhar a campanha de Dilma.
Repare como a cobertura vai se adaptando às novas circunstâncias.
Primeiro, numa manipulação grosseira e desonesta, se dizia que a Petrobras comprara por 1 bilhão de dólares uma refinaria que custara 42 milhões.
As insinuações – acusações, na verdade – eram claras: haveria corrupção aí. Batata.
Dilma deu uma contribuição milionária aos opositores ao dizer, desastradamente, que só assinou a compra – ela chefiava o Conselho de Administração da Petrobras — porque o sumário executivo era falho.
Ela quis tirar sua responsabilidade na compra e, na prática, tornou enorme um problema que era pequeno.
Com o passar dos dias, ficou claro que não era bem assim — embora a Petrobras tenha demorado uma eternidade a se defender. Nem a compra fora por um valor tão baixo e nem a venda posterior por um valor tão alto.
Desfeita a falácia dos números absurdamente inflados, a luta pela CPI deveria murchar.
Mas então a mídia se incumbiu de encontrar um novo foco por conta de uma declaração de Graça Foster, presidenta da Petrobras.
Ela disse, ontem no Senado, que a compra de Pasadena foi um “mau negócio”. Pronto: a mídia só fala nisso.
Que companhia não faz, aqui e ali, um mau negócio? Isso não seria motivo suficiente para uma CPI, naturalmente – mas a mídia, como está interessada em tumultuar e não em elucidar, decidiu que é.
A editora Abril da Veja comprou, nos anos 1990, uma boa parte das ações das revistas da chinesa Joana Woo. Rapidamente a Abril perdeu 75 milhões de reais com a aquisição. (A Veja deu uma bofetada estridente no presidente da Abril, Fabio Barbosa, ao simplesmente desprezar o depoimento em que ele esclareceu a compra da refinaria. Barbosa era do Conselho de Administração.)
A Globo – sem o ambiente protegido que tem no Brasil – fez um péssimo negócio ao tentar se globalizar com uma emissora na Europa. Terminou em lágrimas e prejuízos a aventura transatlântica da Globo.
Nenhum negócio, como disse Graça Foster, é 100% seguro. Mas o bombardeio da mídia se concentra na admissão de Foster de que foi um “mau negócio”.
Faltou provavelmente treinamento para Foster sobre como enfrentar um grupo que vai ficar horas à procura de uma brecha, por menor que seja, para criar um clima de histeria propício à convocação de uma CPI.
Situações extraordinárias pedem ações extraordinárias, como disse Guy Fawkes, o rebelde inglês que tentou explodir o Parlamento no início dos anos 1600.
Graça Foster tinha que ter se preparado para uma situação extraordinária, na qual uma frase sincera seria, como está sendo, usada com propósitos assassinos.
O fato é que, na louca cavalgada pela CPI da Petrobras, a maior vítima tem sido a verdade.