O cerco à polícia que derrubou Evo Morales e inspira Bolsonaro. Por Moisés Mendes

Atualizado em 21 de julho de 2021 às 18:29

Publicado originalmente no Blog do Moisés Mendes

Reprodução

Antes de contarem com os militares, os civis golpistas bolivianos que derrubaram Evo Morales, em 2019, liderados por Luis Fernando Macho Camacho, o Bolsonaro deles, atraíram os policiais para a aventura que acabaria não dando certo.

A Polícia Nacional boliviana cumpre as funções de polícia judiciária (o que é tarefa da polícia civil no Brasil) e de polícia ostensiva (atribuição aqui das policiais militares). A Polícia Nacional é fardada, é uma polícia federal militar e faz tudo.

Bolsonaro idealiza na sua cabeça transtornada um golpe em que possa contar mais com as PMs dos que com os militares, por saber que ninguém pode confiar em generais imprevisíveis e instáveis.

Ele imagina algo parecido com o que aconteceu na Bolívia, onde o motim da polícia criou o clima de desordem que puxou os chefes militares covardes para o golpe e provocou a renúncia de Evo Morales em 10 de novembro.

Pois o ex-chefe da polícia boliviana Yuri Calderón é processado pelo golpe ao lado dos comandantes das três armas e mais o comandante das Forças Armadas, Williams Kaliman, que está foragido.

Além dos chefes, outros 26 integrantes da Polícia Nacional, entre os quais muitos subalternos, que participaram do golpe, também estão sob investigação e sofrerão processos.

Os depoimentos começam dia 27 deste mês. Os casos correm por enquanto no Ministério Público militar.

A maioria deles sofre pelo menos seis acusações pelo motim, pela tentativa de golpe e por terem praticado ações violentas contra a população que reagiu ao golpe.

Um dos delitos cometidos feriu o símbolo de unidade dos bolivianos. Os policiais golpistas arrancaram de seus uniformes a bandeira andina Wiphala.

É aquela do arco-íris, que identifica os povos originários, cortada ou arrancada porque seria ligada ao Movimento ao Socialismo de Morales e às esquerdas.

Não há perdão para os golpistas na Bolívia, onde o ambiente político é, segundo Evo Morales, carregado permanentemente de cheiro de golpe. Lá, a polícia que virou facção miliciana da extrema direita se deu mal.