Nunca foi tão divertido acompanhar os bastidores das Olimpíadas.
De todas as tretas publicizadas pelos próprios envolvidos – gerando entretenimento para o público e likes/atenção para si mesmos – a minha predileta é a de Yasmin Brunet e Gabriel Medina.
Caso você não esteja inteirado, temos um resumo: a modelo, que é casada com o surfista, tentou acompanhá-lo nas Olimpíadas como membro da equipe técnica (?) e foi vetada pelo Comitê Olímpico Internacional – obviamente porque ainda estamos em uma pandemia e nestes grandes eventos (que na verdade nem deveriam estar acontecendo) só é permitida a presença de quem de fato integra a equipe técnica.
Os memes que fizeram com essa história, meus amigos, valeram cada centavo da mensalidade da minha internet.
É claro que a modelo não se conformou: gente com mais de três sobrenomes e muitos dígitos na conta, você sabe, não consegue ouvir não. Ela não deve estar acostumada a ser vetada em outros lugares – ela é Yasmin Botelho Fernandez Medina, afinal.
Então o surto veio: a mulher acusou o Comitê Olímpico Internacional de perseguição e apontou o caso de outra atleta que levou seu marido como “staff” – algo como técnico ou treinador. A diferença é que, nesse caso, o marido era mesmo técnico formado e com experiência, diferente de Yasmin, que no máximo daria um apoio moral no que lhe coubesse.
Passou vergonha no débito e o chilique não adiantou de nada: a modelo teve mesmo de assistir às Olimpíadas do sofá de casa.
Quando Medina foi eliminado ontem pelo japonês Kanoa Igarashi, o ápice do delírio megalomaníaco de sua digníssima esposa foi atingido: “Tá vendo, se eu estivesse lá…” reagiu ela, ao vivo, em uma transmissão pelo Instagram. Depois do surto narcísico, Yasmin decidiu encerrar a live “pra não falar besteira” – mas algo me diz que era tarde demais.
É engraçado o modo como essas pessoas – os “bem-nascidos”, como minha avó diria – acreditam e fazem parecer que absolutamente tudo no mundo é sobre elas.
Se eu não posso ir pendurada no pescoço do meu marido a um evento internacional no meio de uma pandemia (para o qual ele vai unicamente trabalhar), não é porque existem regras, é porque o Comitê Olímpico Internacional está me perseguindo.
Se o meu companheiro é eliminado em uma competição, é claro que isso não tem a ver com o desempenho dele, mas com a minha ausência. Porque o mundo gira ao redor do meu rico umbiguinho. Típico, muito típico, de gente que usa bolsa de vinte mil.
Desrespeitar a individualidade do outro a ponto de ficar inconformada por não poder acompanhá-lo em uma viagem de trabalho é até compreensível para uma menina mimada – eu era assim aos quinze anos – mas enxergar nisso uma conspiração de um Comitê Internacional é mesmo um traço claramente megalomaníaco: a cara daquele jovem adulto que nasceu em berço de ouro, nunca precisou ser confrontado com a realidade e acabou ficando atrofiado emocionalmente, incapaz de enxergar as coisas com sensatez – “como são lindos os burgueses, mas tudo é muito mais.”
Não satisfeita, ela fez um post no instagram se declarando para o amado e mais uma vez alfinetando o Comitê Olímpico Internacional: “Foi roubado na cara dura”, escreveu, referindo-se à derrota que colocou Medina em 4º lugar.
O COI não responde às lorotas – certamente porque não se deve bater palmas pra doido dançar, como se diz na Bahia -, mas talvez esteja na hora de mostrar à mulher (mulher, embora se comporte como menina), que não se pode tratar um Comitê Internacional como crianças mimadas tratam seus pais: fazendo birra pra conseguirem o que querem e dando chilique em público se não forem atendidos.
Acusar publicamente juízes de uma Olimpíada sem fundamento ou conhecimento técnico sobre o que está dizendo não é exercício da liberdade de expressão, é desrespeito de quem acha que pode dizer qualquer coisa sem consequências. Se a boneca nunca aprendeu a se responsabilizar por seus ataques de pelanca, talvez tenha chegado a hora.
E embora seja necessário responsabilizar gente mimada por suas condutas, não dá mesmo pra esperar coerência de quem cresceu acreditando que o mundo gira ao seu redor. Essa gente, infelizmente, sequer têm muito a ensinar com suas histórias: rendem, no máximo, memes.
A elite brasileira não costuma ouvir não. Eles conseguem tudo, podem tudo e têm tudo – menos noção.