Quando vai dormir, já com seu pijama de general, o que será que pensa o Augusto Heleno? Será que ele pensa, no sentido mais amplo? Quando ele se lembra do que já fez e já disse será que ele compara com o comportamento dele de hoje e olha para as pessoas próximas com um olhar de segurança e certeza dos seus princípios.
Ou seja, usei uma frase mais rebuscada para perguntar, será que ele se incomoda com a cagada que fez? Atacava o centrão e foi festejar a posse do seu líder no governo. E ele não é o único. O próprio Bolsonaro, se pensa, será que ele acredita em tudo o que diz? Será que tudo não faz parte de um plano diabólico o qual ele cumpre perfeitamente? Mas não seria só diabólico, seria rocambolesco também.
Destruir o Brasil requer uma certa competência. Sobretudo se manter no poder por mais de um mandato. Do jeito que as coisas vão estou achando difícil. Será que o Barros, o senador Marcos Rogério, o outro senador Heinze, essa turma, será que eles realmente acham que estão falando as coisas certas, sendo honestos e servindo à população brasileira?
O Marcos Rogério, será que quando ele chega em casa e desfaz o nó das suas elegantes gravatas ele pensa no que fez e no que disse? Será que ele não tem vergonha da sua empregada doméstica, por exemplo, que deve existir e deve ser de uma classe social bem mais baixa que a dele e ela deve olhar pra ele com aquele julgamento disfarçado num leve sorriso que brota do canto da boca e murmura, “essa sopa vai acabar”? Será que ele percebe? Ao aparar sua barba ele se olha no espelho e pensa, “sou um senador do cacête”. Será?
Será que o senador Jorginho(?) pensa nas barbaridades que diz e concorda? Não é possível. Além de marrentos, todos são meio obtusos. Não é possível que alguém em sã consciência possa estar de acordo com tudo o que vem acontecendo. Acho que é a primeira vez na história desse país que uma quase unanimidade se forma contra o governo. Ainda bem que é uma quase porque segundo Nelson Rodrigues, toda a unanimidade é burra.
Perfeito. Que não seja total. Que alguns bolsonaristas radicais resistam e justifiquem a derrota. Acho muito difícil que sem o apoio das elites, da imprensa oficial, dos empresários, da classe média, esse governo resista. Tudo bem, tem muita gente perigosa querendo ver o Bolsonaro pelas costas. Este é um fato. Mas já é um passo. Que saia este homem e depois, democraticamente, trabalharemos para que as coisas melhorem. Cada passo de uma vez.
Hoje as elites, ou parte delas, já começaram a botar as manguinhas de fora para articular um novo golpe contra a possibilidade do Lula vencer as eleições. Só queria dizer uma coisa. Lembre-se do que houve na última vez em que vocês fizeram isso. Na hora de deitar a cabecinha no travesseiro ou dar o nó na gravata na frente do espelho não esqueçam do abismo em que o Brasil caiu depois da atitude omissa ou intencional de vocês.
Medo do governo
Eleger ou facilitar a eleição do Bolsonaro por medo injustificado do Lula deu no que deu. Lula estava preso. Agora não está e inventar um motivo a essa altura do campeonato para colocá-lo novamente na cadeia não vai ser fácil. A democracia é legal, gente. Vale a pena. Dá trabalho, mas vale a pena. Acreditem e deixem de ser falsos ou bandidos.
Texto publicado originalmente em Jornalistas pela Democracia.
Por Miguel Paiva.