Ao contrário do Vietnã, as imagens de Cabul só provocam desânimo. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 16 de agosto de 2021 às 11:18
Montagem com helicópteros americanos em Cabul e no Vietnã
EUA fogem de Cabul, como fizeram no Vietnã

Por Luis Felipe Miguel

Publicado originalmente no Facebook do autor:

A foto do helicóptero pousado na Embaixada dos Estados Unidos para resgatar os funcionários, quando os vietcongs tomaram Saigon, em 1975, era um símbolo poderoso.

A derrota militar do imperialismo animava esperanças no mundo todo.

As imagens similares de ontem, em Cabul, só provocam desânimo.

Sim, é mais uma derrota militar estadunidense. Mas foram derrotados pela barbárie – que, como escreveu Marx certa vez, é um dos caminhos possíveis do pós-capitalismo.

Li no jornal que os professores das universidades se despediam de suas alunas – que não poderão voltar, pois o Talibã não permite a educação das mulheres.

Muitos professores certamente não voltarão também.

É como se mil Miltons Ribeiros turbinados tivessem tomado conta do país.

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Os Estados Unidos foram derrotados por sua própria criatura.

O Talibã é descendente direto dos mujahedin financiados, armados e treinados por Washington para lutar contra o governo laico – e, até onde tenho conhecimento, em muitos sentidos progressista – do Afeganistão, então apoiado pela União Soviética.

O governo chinês, por sua vez, tem boas relações estabelecidas com o Talibã, a despeito de tudo o que ele representa. Julga-o útil à sua geopolítica.

Não é de se estranhar. A política externa chinesa é guiada pelo pragmatismo mais exacerbado, com desprezo por quaisquer considerações de princípios. E isso não vem de hoje: quem não lembra da amizade entre a China de Mao e o Chile de Pinochet?

Pobres afegãos, no meio disso.