Por Luis Felipe Miguel
Publicado originalmente no Facebook do autor:
A foto do helicóptero pousado na Embaixada dos Estados Unidos para resgatar os funcionários, quando os vietcongs tomaram Saigon, em 1975, era um símbolo poderoso.
A derrota militar do imperialismo animava esperanças no mundo todo.
As imagens similares de ontem, em Cabul, só provocam desânimo.
Sim, é mais uma derrota militar estadunidense. Mas foram derrotados pela barbárie – que, como escreveu Marx certa vez, é um dos caminhos possíveis do pós-capitalismo.
Li no jornal que os professores das universidades se despediam de suas alunas – que não poderão voltar, pois o Talibã não permite a educação das mulheres.
Muitos professores certamente não voltarão também.
É como se mil Miltons Ribeiros turbinados tivessem tomado conta do país.
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Os Estados Unidos foram derrotados por sua própria criatura.
O Talibã é descendente direto dos mujahedin financiados, armados e treinados por Washington para lutar contra o governo laico – e, até onde tenho conhecimento, em muitos sentidos progressista – do Afeganistão, então apoiado pela União Soviética.
O governo chinês, por sua vez, tem boas relações estabelecidas com o Talibã, a despeito de tudo o que ele representa. Julga-o útil à sua geopolítica.
Não é de se estranhar. A política externa chinesa é guiada pelo pragmatismo mais exacerbado, com desprezo por quaisquer considerações de princípios. E isso não vem de hoje: quem não lembra da amizade entre a China de Mao e o Chile de Pinochet?
Pobres afegãos, no meio disso.