Ladies & Gentlemen:
Fazia tempo que eu não via uma canalhice tão grande quanto a de Mourinho, The One. Numa entrevista, ele conseguiu atribuir a culpa da eliminação do Chelsea ao atacante belga Hazard.
Hazard, disse Mourinho, não se sacrifica pelo time, seja o que isso signifique. Hazard tinha que ajudar na defesa. Se fizesse isso, disse Mourinho, o Atletico de Madrid não teria feito o gol de empate na partida em que, em pleno Stamford Bridge, o Chelsea acabou eliminado.
Na coletiva, um jornalista fez uma pergunta boa, mas não ótima. Ele quis saber de Mourinho se já dissera aquilo a Hazard. Mourinho disse que vem dizendo isso desde que chegou ao Chelsea.
Faltou a seguinte questão: e então por que você o escalou numa partida tão importante?
No banco, estavam grandes jogadores, entre os quais o brasileiro Oscar.
Boss me ensinou a palavra certa, em português, para este tipo de coisa. Pataquada.
Mourinho simplesmente terceirizou a culpa para o pobre Hazard, um jogador brilhante, aliás.
Assim eu entendo por que os jogadores do Real Madri pareciam detestar Mourinho.
Em sua pressa de passar para Hazard a responsabilidade, Mourinho não percebeu que na verdade ele estava atribuindo a si mesmo a culpa pelo naufrágio.
Suponho que o cartola Roman Abramovic fará a Mourinho a pergunta que nenhum jornalista fez: por que escalou Hazard, se ele não se sacrifica pelo time?
O problema do Chelsea, de resto, é outro: uma dificuldade monstruosa em fazer gols. Boss diz que é o Corinthians de Londres.
Nas duas partidas contra o Atlético de Madri, o Chelsea não criou nada. Fez um e apenas um gol.
Uma equipe tão cara e jogos tão feios: alguma coisa está errada, e suponho que seja Mourinho.
Comentei com Boss a fala de Mourinho. E ele me disse que no Brasil aconteceu outra pataquada notável.
O presidente do Atlético Mineiro, um certo Kalil, me disse ele, depois da derrota que eliminou o time na Libertadores, se autoconcedeu o título de Rei do Galo (Nota da Tradutora: King of the Cock, em menção ao apelido do Atlético.)
Ele disse que manda embora quem quiser, contrata quem quiser, muda o que quiser.
Um momento: é assim que as coisas funcionam no futebol brasileiro? O técnico é figurativo?
Em plena derrota que deveria dar-lhe ares de humildade, ele vestiu trajes de Rei.
Os jogadores, hoje, sabemos todos, são mercenários. Os salários são maiores do que o talento. São raros os craques, comparados a outras épocas.
Mas de certa forma tenho pena destes mercenários ao ver o tipo de gente – treinadores e dirigentes – com o qual eles trabalham.
Sincerely.
Scott
Tradução: Erika Kazumi Nakamura