Publicado originalmente no Tijolaço:
Por Fernando Brito
Como no auge da popularidade das novelas de TV – quem as chamava de “ópio do povo” dê uma olhada no nível atual dos “BBB” e congêneres -, o país está parado à espera do que vai acontecer amanhã, nos grandes cenários montados para os atos bolsonaristas, na Esplanada dos Ministérios e na Avenida Paulista.
Robôs na internet colocam eletricidade no ar: segundo a Folha, 81 mil postagens automáticas se encarregaram de promover o “tudo ou nada” presidencial.
E o que se passará aqui a 24 horas? Jair Bolsonaro proclamará a “República de Rio das Pedras” à frente de falanges miliciano-policiais? O general Braga Netto, ainda que a paisana e mudo, estará ali como avalista militar da ofensiva? “Ultimatos”, como prometeu o presidente pressupõe um “ou” à ordem dada e não executada…
O mais provável é que não aconteça nada e tudo venha, como na televisão, acompanhado de um “não perca os próximos capítulos”.
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Ainda que tudo mais tenso, vamos voltar às velhas escaramuças: Jair e os filhos fazendo arminha para a velha senhora da espada, postada à frente do Supremo, Arthur Lira tocando sua banca de mascate, Rodrigo Pacheco fazendo de mordomo fleugmático do casarão do Senado e as polícias à espera de um “coronel Zé Trovão” que desafia a Justiça, naquele empoeirado “vem me prender se você é homem para isso”.
No “núcleo pobre” da novela – nunca falta um, embora os protagonistas sejam os de folgada classe média – o enredo é outro: a velha carestia. Em milhões de casas, a luz que resta é fraca e rara, quando não a do fogão de lenha que substitui o gás inviável, embora só haja a cozinhar uma mistura cada vez mais raquítica. Nas conversas de supermercado, ouve-se cada vez mais o “tem que tirar este homem de lá”.
Amanhã não será o “ultimo capítulo”, mas um dos cliffhanger (literalmente, “à beira do precipício”), recurso muito usado nos longos dramas televisivos para que se insinue um situação decisiva que, afinal, vai se desfazer em quase nada e permitir a continuação da história.
No popular, seria uma “encheção de linguiça”, mas a linguiça anda cara demais para isso.