Roger se apresentou com o Ultraje a Rigor no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. A banda foi uma das atrações do Festival CCBB de Música Urbana, patrocinado pelo Ministério da Cultura.
Leia “bancado pelo estado”, se você quiser.
O Ultraje também estará na Virada Cultural Paulista, que acontece nos dois último finais de semana de maio em 28 cidades. O shows são promovidos pelas prefeituras.
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Roger recebeu o convite, será pago e toca onde quiser, evidentemente. Fala o que quiser, também. Agora, faz sentido um artista que se declara “liberal capitalista”, que condena “o favor e o paternalismo”, que gasta as 24 horas de seu dia para descer o cacete no comunismo sob o qual vivemos — cantar em eventos pagos com dinheiro público?
O ator José de Abreu, que vive às turras com o cantor há anos, não deixou passar e fez uma provocação. Roger respondeu indignado. “Um governo decente deve apenas administrar o dinheiro do povo. É para ele o show, para o povo, do qual faço parte”, escreveu. “Meu trabalho está a venda, mas meu caráter e meus pensamentos não. Minha consciência está limpa”.
Leu também um discurso durante o espetáculo:
“Pois bem, quem está me pagando hoje não é um partido que se considera dono do Brasil. Um governo honesto deve apenas administrar o dinheiro que recolhe do povo e devolvê-lo ao povo em forma de serviços, de acordo com a necessidade desse mesmo povo.
Não vou agora discutir se isso está sendo feito ou não, mas o fato é que estou sendo contratado para exercer meu ofício, nesse caso, trazer cultura e diversão para o povo.
Quem está me pagando é o povo, do qual eu faço parte, através de um órgão do governo que, repito e enfatizo, não pertence a um partido político, ao contrário do que querem acreditar esses canalhas que me perseguem por eu exercer meu direito de pensar e me expressar livremente”.
OK, o “órgão” citado por ele não pertence a nenhum partido, mas continuará sendo do estado, ainda que, digamos, o PSC estiver no poder. Com essa consciência e coerência todas, por que simplesmente não se recusou a se apresentar?
Uma coisa é certa: se ele não tivesse sido chamado pelo MinC, estaria denunciando que a responsabilidade era do aparelhamento, do bolivarianismo, da perseguição política e por aí afora.
Não há nada que o dinheiro não resolva. Na Virada Cultural, calcula-se que o pagamento do Ultraje, normalmente de 21 mil reais, será de 29 mil, segundo o Estadão. Isso está ocorrendo com diversos outros nomes. Um possível superfaturamento de cachês está sendo investigado.
Mas e daí? Como ele mesmo diz: “mim quer tocar, mim love to get the money”. E o coro: “Di môôônei”.