A informação do partido espanhol Vox avançando com projeto de plataforma de extrema direita na América Latina é da repórter Michele de Mello no site Brasil de Fato.
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Extrema direita do Vox
Os líderes do partido de extrema-direita espanhol Vox tentam criar uma plataforma de líderes conservadores na América Latina, Espanha e Portugal. O chamado Fórum de Madri é uma aliança internacional “para frear o avanço do comunismo na ibero-esfera”, afirmam na carta de fundação.
Seu movimento mais recente ocorreu no início do mês, no dia 3 de setembro, quando a aliança foi defendida por Santiago Abascal, líder do Vox, no México. Ele recebeu apoio de 15 senadores e três congressistas dos tradicionais Partido Ação Nacional (PAN) e Partido Revolucionário Institucional (PRI), que prometem fundar um Vox mexicano no futuro próximo.
O bloco, que busca fazer oposição ao Foro de São Paulo e o Grupo de Puebla, articulações de ex-presidentes, partidos e movimentos sociais do campo progressista e popular, terá encontros anuais e uma estrutura de direção permanente.
A proposta surgiu em outubro de 2020, com a publicação da Carta de Madri, assinada por políticos de extrema-direita da Europa e da América Latina, como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP); a deputada federal Bia Kicis (PSL-RJ); Arturo Murillo, ex-ministro de governo da Bolívia, preso nos Estados Unidos; Antonio Ledezma, ex-prefeito de Caracas e um dos protagonistas do golpe de 2002 contra Hugo Chávez; Maria Corina Machado, uma das organizadoras das guarimbas venezuelanas – atos violentos opositores; e Rafael López Aliaga, ex-candidato de extrema-direita à presidência do Peru.
O documento já foi apresentado por dirigentes do Vox no Equador, durante a posse do atual presidente Guillermo Lasso, e no Peru, durante as últimas eleições presidenciais ao lado de Keiko Fujimori. Em agosto, o grupo esteve na Colômbia com os partidários do Centro Democrático.
Além da iniciativa, o partido espanhol também criou a Fundação Disenso, um núcleo de intelectuais conservadores. O eurodeputado pelo Vox e presidente da entidade Hermann Tertsch, em entrevistas para meios locais espanhóis afirmou que a Fundação “busca estreitar as alianças com os democratas que estão combatendo o narcocomunismo, em países como Peru e Bolívia. Cuba é a cabeça da serpente”, declarou.
No Brasil, o deputado federal e filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), já se manifestou publicamente em apoio ao Fórum de Madri e ainda afirmou que poderia ajudar a dialogar com a direita argentina, após ser convidado para participar do CPAC Argentina.
Já no Chile, o fundador do Partido Republicano do Chile, José Antonio Kast, defensor da ditadura de Augusto Pinochet, seria um dos promotores da nova iniciativa de direita.
Raízes conservadoras
Uma breve retrospectiva mostra que as raízes da articulação protagonizada pelos espanhóis surgiu em encontro nos Estados Unidos.
Em 2019, o representante de política internacional do partido Vox, Espinosa de los Monteros, participou da Conferência de Ação Conservadora na Política (CPAC – pelas siglas em inglês) nos Estados Unidos, com a presença do então presidente Donald Trump e seu vice, Mike Pence.
Já em 2020, o secretário de relações internacionais do Vox e o presidente do partido, Santiago Abascal, retornaram aos Estados Unidos em fevereiro para conhecer o funcionamento de vários think tanks (“tanques de pensamento”) e participar de uma nova edição da CPAC. Nesse encontro, estava presente o eurodeputado espanhol Herman Terstch e o deputado Eduardo Bolsonaro.
A primeira edição da CPAC sediada no Brasil, aconteceu no último dia 3 de setembro, organizada por Eduardo Bolsonaro em Brasília e contou com a presença de vários personagens da extrema-direita estadunidense, além de uma conferência online com Donald Trump Jr.
Na mesma data, os líderes do Vox apresentavam o “Fórum de Madrid” no México.
A conexão Bannon
Os vínculos entre a extrema-direita espanhola e latino-americana com a o setor mais conservador da política estadunidense são ainda mais antigos.
Tanto os partidários do Vox, como a família Bolsonaro, reuniram-se diversas vezes de maneira pública com Steve Bannon, ex-estrategista da campanha de Trump em 2016, criador do Instituto Dignidade Humana, espécie de escola do conservadorismo na Itália, e promotor de uma aliança da extrema-direita em nível mundial.
Há indícios de que Bannon teria colaborado com a campanha de Jair Bolsonaro em 2018 e, recentemente, declarou estar preparado para cooperar novamente com o atual mandatário em 2022.
Steve Bannon foi um dos protagonistas do escândalo da Cambridge Analytica, empresa que vendeu dados pessoais de usuários britânicos à favor da campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit). Em agosto, foi preso nos EUA, acusado de fraude e desvio de US$ 1 milhão (cerca de R$5 milhões) dos fundos da campanha para a construção do muro na fronteira entre o México e os Estados Unidos.
No Brasil, a chapa Bolsonaro-Mourão pode ser cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por disseminação de notícias falsas e uso ilegal de dados para registrar linhas telefônicas usadas nos disparos de mensagens em massa.
O rastro de Bannon nas campanhas do Brexit, de Trump, Bolsonaro e do Vox também se evidencia nos slogans. Assim como Trump falava em “America First” (Primeiro a América), o Vox também usa o slogan “¡Los españoles primero!”, que Bolsonaro adaptou para “Brasil acima de tudo”.