A Prevent Senior ocultou mortes de pacientes em estudo sobre a cloroquina. A pesquisa foi apoiada por Jair Bolsonaro. O plano de saúde testou a eficácia da hidroxicloroquina, associada à azitromicina, para tratar da covid-19. Nove pessoas morreram durante os testes, mas só duas foram mencionadas.
Os estudos foram manipulados para demonstrar uma falsa eficácia da droga. Um médico que trabalhava na operadora afirmou que o resultado já estava pronto antes da conclusão dos testes.
O dossiê que está na posse da CPI da Covid cita que as irregularidades partem de acordo entre o governo Bolsonaro e a Prevent. O estudo foi um desdobramento da negociação, segundo o G1.
A pesquisa teve início em 25 de março. Fernando Oikawa, diretor da instituição, orientou os subordinados a não avisarem os pacientes sobre o teste. “Iremos iniciar o protocolo de HIDROXICLOROQUINA + AZITROMICINA. Por favor, NÃO INFORMAR O PACIENTE ou FAMILIAR, (sic) sobre a medicação e nem sobre o programa”, escreveu a eles.
Das nove pessoas que foram a óbito, seis tomaram cloroquina e azitromicina. Dois não ingeriram a medicação e um deles não se sabe o papel. Houve, pelo menos, o dobro de mortes entre os que tomaram as drogas.
Em pré-print publicado em 15 de abril, o cardiologista Rodrigo Esper, também diretor, só mencionou duas mortes. “Não houve efeitos colaterais graves em pacientes tratados com hidroxicloroquina mais azitromicina. Dois pacientes do grupo de tratamento morreram durante o acompanhamento; a primeira morte foi devido à síndrome coronariana aguda e a segunda morte devido a câncer metastático”, escreveu. No grupo, entretanto, não há nenhum paciente com as doenças mencionadas.
Dos 636 participantes do estudo, apenas 266 fizeram eletrocardiograma, recomendado para pacientes que usam a droga. Uma das pessoas que morreu tinha 83 anos e apresentou arritmia cardíaca, um dos efeitos colaterais da cloroquina. Cerca de 15% do total (93 pacientes) fizeram teste de covid. Foram apenas 62 casos positivos, menos de 10% do total estudado.
O estudo foi submetido ao Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) e aprovado. Mas o órgão voltou atrás por constatar que os testes foram feitos sem aprovação legal.
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Bolsonaro divulgou estudo falso da Prevent Senior
Em 18 de abril, três dias depois da divulgação, o presidente publicou no Twitter parte do estudo. Citando a operadora, ele mencionou a ocorrência de cinco mortos entre os que não tomaram as drogas.
“Segundo o CEO Fernando Parrillo, a Prevent Senior reduziu de 14 para 7 dias o tempo de uso de respiradores e divulgou hoje, às 1h40 da manhã, o complemento de um levantamento clínico feito: de um grupo de 636 pacientes acompanhados pelos médicos, 224 NÃO fizeram uso da HIDROXICLOROQUINA. Destes, 12 foram hospitalizados e 5 faleceram. Já dos 412 que optaram pelo medicamento, somente 8 foram internados e, além de não serem entubados, o número de óbitos foi ZERO. O estudo completo será publicado em breve!”, escreveu Bolsonaro”.
Um dia depois, Esper orientou o grupo de pesquisadores e citou a mensagem do presidente. Ele diz a eles que os resultados precisam ser “assertivos” e “perfeitos”, e ainda promete “mudar o curso da medicina”.