Vamos deixar claro o seguinte: tudo indica que Lula cometeu uma tremenda pataquada no caso Gilmar Mendes.
Isso não o diminui como presidente. Lula vai passar para a história do Brasil como o primeiro presidente dos 99%. Mas, no episódio Gilmar, Lula aparece, pelo menos até aqui, mais como líder síndical numa luta entre facções do que como ex-presidente.
Histórias de tentativas de interferência de poderosos no curso da justiça não são novidade nem no Brasil e nem no mundo. Serra tentou dissuadir os diretores da Petrobrás a desistir do processo que moviam contra Paulo Francis na justiça americana depois que ele disse sem provas que eram corruptos. Não conseguiu, e a perspectiva de quebrar diante de uma indenização milionária contribuiu para o enfarte que matou Francis.
Leio em certos blogues a defesa incondicional e agressiva do indefensável. Tudo se reduz à seguinte questão nestes blogues: você acredita mais em Lula ou em Gilmar?
Ora.
Não estamos num torneio para descobrir quem é mais acreditado. Está na hora de o Brasil crescer ao discutir política. Lula não pode ser tratado como santo, ou como um intocável. Sua obra presidencial é única: em circunstâncias extraordinariamente adversas, ele conseguiu fazer parecer pequenos todos os seus antecessores ao colocar foco não no 1%, mas nos desvalidos. Lula destruiu, com enorme sucesso, a tese ignominiosa de Delfim Netto — o homem forte da economia no regime militar — segundo a qual era preciso antes fazer crescer o bolo para depois dividi-lo.
Mas se ele fez o que não devia – ainda que com boas intenções – tem que responder por isso. Estamos diante de um episódio que pede fatos, e não adjetivos. Caso Lula não tenha feito pressão sobre Gilmar, ele tem que mostrar mais que a nota anódina em que se disse indignado.
Dizer que a direita está inventando um escândalo é zombar da inteligência dos brasileiros – e isso não é nada bom para o Brasil.