“Nem sei quem é Olavo”, diz ao DCM líder de Paraisópolis que faz parceria com o canal bolsonarista Brasil Paralelo

Atualizado em 19 de outubro de 2021 às 19:47
Fundadores da Brasil Paralelo
Henrique Viana, Filipe Valerim e Lucas Ferrugem, fundadores do Brasil Paralelo.
Foto: Reprodução

A produtora de extrema direita Brasil Paralelo firmou uma parceria inusitada com a organização G10 das Favelas, grupo que reúne as dez maiores comunidades do país.

Na favela de Paraisópolis, segunda maior de São Paulo, serão exibidos documentários, séries e cursos alinhados às ideias do guru bolsonarista Olavo de Carvalho.

Os moradores terão acesso gratuito ao conteúdo assumidamente conservador. Serão oferecidas 500 bolsas.

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O Brasil Paralelo foi fundado por três gaúchos bolsonaristas até o último fio de cabelo.

Eduardo Bolsonaro é estrela de diversas “entrevistas” no canal da empresa no YouTube. Jair também.

Foi ali que o ex-chanceler Ernesto Araújo declarou, cheio de dentes, que o nazismo é de esquerda.

A produtora foi alvo de pedido de quebra de sigilo pela CPI da Covid, junto a outros veículos bolsonaristas. De agosto de 2020 para cá, a empresa gastou mais de R$ 3,8 milhões em anúncios no Facebook.

Mas para o líder do G10 das Favelas, Gilson Rodrigues, responsável pela parceria, a presença do Brasil Paralelo em Paraisópolis representa a “cultura da liberdade”.

Conhecido como “prefeito de Paraisópolis”, Gilson disse ao DCM que nunca ouviu falar de Olavo de Carvalho.

“Nem sei quem é”, afirma. “Eu não tenho esse direito de escolher o que os moradores da favela vão consumir”.

Veja Gilson Rodrigues
Gilson Rodrigues, líder do G10 das Favelas.
Foto: Divulgação/G10

Ele declara que é a favor da vacina e que não gosta das ideias do presidente, mas que “tanto faz” se um bolsonarista quiser fazer algo na comunidade.

“Vou respeitar e vou discordar. Isso é a democracia de verdade”, diz o ativista, reclamando da “polarização”.

Na pandemia, o G10 fez exatamente o contrário do governo Bolsonaro. A associação agiu em defesa do distanciamento social e do uso de máscaras, medidas criticadas pelo BP.

Mesmo assim, Gilson Rodrigues afirma que a periferia precisa “ter acesso a todo tipo de informação”.

“Nós temos esse direito. A briga entre esquerda e direita não nos interessa, o movimento ‘Ele Não’ elegeu Bolsonaro”, diz ele.

Banner de filme da Brasil Paralelo
Banner de documentário da Brasil Paralelo sobre o golpe de 1964 com Olavo de Carvalho.
Foto: Divulgação

As produções bolsonaristas do Brasil Paralelo

Desde a criação da produtora, em 2016, já foram produzidos 50 documentários, sobre temas como história do Brasil, golpe de 1964 e pandemia.

Seu maior sucesso é o filme “1964: o Brasil entre Armas e Livros”, em que o golpe militar é apresentado como uma reação à “influência comunista” no governo de João Goulart. O documentário foi massacrado pela crítica, sendo considerado um filme de propaganda da ditadura.

Outro hit do BP, “Pátria Educadora” culpa Paulo Freire e sua influência esquerdista sobre as escolas pelo atraso educacional no país.

Em julho de 2020, eles lançaram um documentário negacionista. “7 Denúncias: As Consequências do Caso Covid-19” se opõe às medidas de prevenção do coronavírus, criticando isolamento social, fechamento do comércio e uso de máscaras.