Richard Carlile, jornalista inglês que foi um dos heróis da luta pela liberdade de expressão na Inglaterra no começo dos anos 1800, não se dava facilmente por vencido.
Certa vez, decidiu falar às pessoas aos domingos. Mas o governo não queria que Carlile falasse. Suas ideias se chocavam com a lei vigente na Inglaterra. Carlile, um reformador radical, queria coisas como livre pensamento, sufrágio universal e melhores condições de vida para os trabalhadores – cujas jornadas giravam em torno de 16 horas por dia.
Para desfazer o plano de Carlile, o governo recorreu a uma suposta lei segundo a qual só os reverendos podiam pregar aos domingos.
Carlile fez o seguinte. Investigou o que era preciso para se tornar reverendo. Soube que bastava acreditar em Deus e comprar uma espécie de licença. Foi o que Carlile fez. Ele passou a se apresentar como Reverendo Richard Carlile.
Falava as coisas de sempre, em favor dos desfavorecidos – mas com uma bíblia nas mãos. Num artigo, ele contou, com o habitual bom humor, que descobriu que segurar uma bíblia não mudava as opiniões essenciais de ninguém.
Quanto Carlile era bom de retórica se pode ver num episódio. Um cirurgião de Chelsea, em Londres, uma vez procurou Carlile. Jamais o vira. Estava muito doente, e apenas queria avisá-lo de que o incluíra em seu testamento depois de ouvi-lo falar. (No testamento, o cirurgião abençoou Carlile e maldisse “cristãos, judeus, muçulmanos, todos aqueles, enfim, que cometem atrocidades em nome da religião.)
Nós, jornalistas, devemos muito a ele, o bom, o combativo, o generoso Richard Carlile.
Ou Reverendo Richard Carlile, como você queira.