Mesmo diante das incertezas do cenário econômico, com a alta da inflação e o consequente aumento de muitos produtos, as pesquisas feitas pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) vem mostrando dados alentadores para o comércio.
Mesmo com altas e quedas o nível de famílias endividadas é menor do que há um ano atrás. De acordo com a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), com dados coletados até o mês de setembro, este ano apenas 25,5% das famílias estão com suas contas em atraso, 1 ponto menos do que no ano passado, que atingiu 26,5%. A queda é registrada após dois meses de permanecer em 25,6%, em julho e agosto.
Entre os entrevistados com dívidas fora do prazo de pagamento, a média do atraso é de 61,6 dias. A maior parte dos entrevistados estão devendo a mais de 90 dias (41,4%), outros 32,9% estão com o pagamento em atraso entre 30 e 90 dias. Apenas 24,2% têm dívidas há menos de 30 dias.
Além da queda no percentual das famílias endividadas, também houve uma redução nas famílias que não tinham condições de quitar suas dívidas. Em setembro de 2020 eram 12% dos entrevistados, este ano apenas 10,3%. Este é o ponto mais baixo registrado neste ano, que se manteve sempre abaixo dos 11%, em abril já tinha atingido 10,4%.
Esta baixa na inadimplência demonstra que os brasileiros, apesar das dificuldades da situação atual, procuram quitar suas dívidas ou renegociá-las para manter o controle dos gastos.
Ao contrário da taxa de inadimplência, vemos que aumentou o percentual de famílias com dívidas ativas. No comparativo interanual houve um aumento de 6,8 p.p., passou de 67,2% em setembro de 2020 para 74% de famílias com algum tipo de dívida e que terão sua renda comprometida para quitá-las em média 7,3 meses. 35,6% dos entrevistados terão sua renda comprometida por mais de um ano e 45,3% entre um e seis meses.
Em setembro, 30,2% é o percentual da renda comprometida pelas famílias que participaram da pesquisa nacional. A forma de endividamento mais utilizada continua sendo o cartão de crédito, 84,6%, seguido pelos carnês de lojas com 18,8% e pelos financiamentos longos, de bens mais caros como veículos (13,2%) e imóveis (9,7%).
As alternativas de crédito também são fonte de dívidas para as famílias brasileiras, porém são menos escolhidas. Apenas 9,0% das dívidas eram com empréstimo pessoal, 7,1% com crédito consignado e 4,6% no cheque especial. Outras fontes de dívidas não alcançaram 2%.
A intenção de compra das famílias brasileiras
Com a inflação em alta, registrando 1,31% no mês passado de acordo com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) e acumulando 6,60% nos nove meses deste ano, os principais itens da cesta de consumo estão afetados. Alimentos, transporte, energia e medicamentos foram os que mais aumento tiveram.
Somado a isso os índices de desemprego elevados e os recortes no auxílio emergencial (menor quantia de dinheiro oferecida e menos beneficiários), o orçamento de muitas famílias é abalado, principalmente aquelas que contam com menos recursos. Se encontram com seu poder de compra reduzido diante do cenário atual e precisam utilizar as formas de crédito que estão disponíveis.
No entanto, o indicador de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), também divulgado pela CNC, mostra que mês a mês as famílias têm aumentado sua intenção de compra. Para setembro o aumento foi de 1,9%, alcançando os 72,5 pontos, o valor mais alto nos últimos 6 meses e 4,9 pontos acima da intenção de compra do mesmo período do ano passado.
Para o comércio o aumento na intenção de compra é muito positivo e para o consumidor também, por isso ajuda com a melhora da economia o que é positivo para todos. Em agosto deste ano, as estatísticas monetárias e de crédito do Banco Central mostraram uma alta de 1,5% no volume de operações de crédito.
No entanto, o consumidor precisa usar seus recursos de forma responsável para não ter inconvenientes nos próximos meses. tem que analisar muito bem sua situação particular, utilizando comparadores de empréstimos pessoais ou verificando os custos reais das operações com o cartão de crédito, para não comprometer demais o orçamento familiar.
Isto é fundamental, porque mesmo com o aumento na concessão de empréstimos e financiamentos também houve aumentos nas taxas de juros, e isto pode contribuir com o endividamento e a inadimplência das famílias.
Alguns custos dos bancos, como o gasto operacional e os riscos de inadimplência, são determinados levando como referência algumas variáveis, entre elas a taxa Selic. Como consequência, se esta taxa aumentar, os custos do empréstimo também irão aumentar.
A taxa de inadimplência cai, mas a intenção de compra das famílias brasileiras e seu endividamento aumentam em setembro, mesmo com sua capacidade de compra reduzida. A situação atual continua incerta e requer que as famílias brasileiras mantenham equilíbrio em suas contas e analisem bem sua situação antes de comprometer sua renda futura com financiamentos ou créditos.