O texto abaixo é de Aldo Lammel, 30 anos, o autor e realizador do Mochila & Bike, projeto sócio-cultural sustentável que dará a volta ao mundo de bicicleta a partir de janeiro de 2015. O objetivo, diz Aldo, do projeto é visitar 40 países em 40 meses atrás das instituições que apostem na educação gratuita ou nas políticas sustentáveis, além de inspirar pessoas através de fotografias, vídeos e artigos publicados semanalmente no Facebook do projeto.
Olá. Eu me chamo Aldo, nasci em Porto Alegre em 1984 e posso lhe garantir que sempre fui o cara do grupo que inventava algo atípico para se fazer. O curioso desse detalhe é que apenas descobri o que eu realmente queria 27 anos depois. A minha crescente inquietação vinha de alguma necessidade indefinida que finalmente tomou forma nos últimos anos quando mudei vários hábitos.
Grandes mudanças se fazem por meio de nossas próprias atitudes e eu sempre fui admirador inato de pessoas que enfrentam as circunstâncias para transformar sonhos em realidades positivas e coletivas. Como serei uma referência para os meus futuros filhos se nem ao menos havia tentado realizar os meus grandes sonhos? Além de ter exterminado hábitos sedentários há três anos, em 2011, joguei para o alto no ano passado a minha carreira com um ótimo salário e abracei de vez os meus sonhos: conhecer o mundo, escrever minhas experiências e fazer diferença na vida das pessoas através de um trabalho genuinamente humano e autoral.
Em 2013, durante um voo de negócios, pus na cabeça que seria naquele dia que eu jogaria tudo para o alto, custe o que custasse. O meu trabalho era legal, mas o resultado final era sempre um “bom trabalho” seguido de alguns tapinhas nas costas e uma nova solicitação de desconto num novo projeto. Não havia no meu dia-a-dia algo realmente importante, fundamental, enriquecedor. Era hora de deixar o empreendedor que sempre esteve comigo assumir o controle e apostar nas coisas as quais sempre quis fazer.
De fato eu estava prestes a tirar do papel aquele antigo sonho de infância de ver o mundo com os próprios olhos. Uma semana depois do voo onde tudo aconteceu, pedi demissão da produtora de internet onde eu atuava como gerente de projetos e passei a trabalhar fulltime no planejamento do que eu definira como Mochila & Bike. Seria uma expedição com uma bicicleta através de cinco continentes durante três anos e uns quebrados em busca de inspiração pessoal para escrever minhas memórias e encontrar pessoas/instituições que apostassem em coisas as quais eu acreditava, sendo apostando ativamente na educação gratuita ou nas políticas ambientais.
Mesmo já definido que a bicicleta seria o meio de transporte do projeto, por suas propriedades ecológicas e autonomia ilimitada, ainda restava um pacote de problemas a resolver e dar chance do Mochila & Bike sair do papel. O primeiro ponto era definir a duração do projeto. Em seguida, definir, baseado na duração, quais países seriam visitados. Agora, com toda esta informação, era possível calcular os custos do projeto, todavia ainda não era a solução dos problemas iniciais. Existia ainda o ponto que, seguramente, é o aspecto determinante em qualquer projeto que exija longos períodos em campo: a abnegação emocional.
Nenhum aspecto de um empreendimento que exige tamanho tempo longe de casa, seja o aspecto financeiro ou logístico, se compara as questões emocionais envolvidas. Quando fazemos uma viagem de férias, por exemplo, estamos ao lado das pessoas gostamos ou, no mínimo, a veremos dentro de duas a quatro semanas. Também costumamos fazer de nossas férias momentos de conforto, de descanso, onde a prioridade é relaxar.
Numa viagem de volta ao mundo com uma bicicleta as coisas são vertiginosamente diferentes. Estamos falando de 40 meses de estrada ou 160 semanas ou, ainda, 1.200 dias. É muito tempo longe das pessoas as quais amamos. São mais de mil dias pedalando 50 quilômetros para vencer a distância total de 60 mil em terra firme. A abnegação emocional é a responsável por manter o indivíduo focado e, principalmente, atento ao que está acontecendo envolta. Sem essa abnegação específica, você é impelido a desistir a todo instante, desde pais fragilizados pelos riscos, cônjuges surtados pela notícia e sua vontade natural de optar pelo caminho mais fácil que é o ficar. A renúncia dessa carga emocional tratei logo nos primeiros quatro meses do pré-projeto, cortando elos e administrando outros.
Hoje, focado há quase um ano no planejamento de um incrível projeto, a poucos meses do seu início – jan/2015 -, estou consolidando não somente cada mudança positiva de hábito que conquistei nos últimos anos, mas transformando sonhos em benefícios coletivos, seja através de artigos, fotografias, vídeos e depoimentos de uma viagem de volta ao mundo ou através das palestras e exposições gratuitas que o projeto promoverá ao retornar para o Brasil em 2018.
Você pode até se perguntar sobre o que espero de todo este trabalho quando eu voltar da expedição. Bem, não posso prever cada quilômetro onde a determinação do projeto Mochila & Bike irá me levar ou se terei sempre sucesso com os objetivos do projeto, entretanto sinto profundamente, apesar de tudo o que eu tive de renunciar e das adversidades que estão por vir, que estou indo em direção à minha felicidade e realização profissional.
Também espero que a minha história, a história do projeto Mochila & Bike, independente se você aprecia ou não ciclismo, no final, inspire você a sempre lutar por aquilo que te faz feliz sem esquecer de contribuir ativamente para o desenvolvimento das novas gerações, sendo apostando em projetos culturais, sociais, desportivos ou sustentáveis. Estou convicto que você próprio será a sua maior fonte de motivação a medida que enxergar com clareza o caminho dos teus sonhos se aproximando de você.
Existe uma frase que a construí ao longo de muita porrada, muitos erros e acertos nestes primeiros 30 anos da minha vida. Quero compartilhá-la contigo e afirmar que, quando você a assimilá-la, automaticamente você passa a ser alguém que faz a diferença na vida das pessoas a tua volta, independente no que você é bom: Faça por merecer e inspire-se com as tuas próprias atitudes.