Fora do G8, a Rússia olha cada vez mais para além do Ocidente

Atualizado em 5 de junho de 2014 às 10:42

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Publicado originalmente na DW.

 

Quando se dirigirem para a Normandia nesta sexta-feira (06/06), por ocasião dos 70 anos do Dia D, os vitoriosos da Segunda Guerra Mundial terão feito uma viagem bem mais curta do que o inicialmente planejado. Eles irão para a França diretamente do encontro do G7 em Bruxelas, e não da cidade russa de Sochi, como havia sido planejado antes.

O G7 e a Rússia inicialmente iriam se reunir no balneário russo no Mar Negro, mas depois da anexação da península da Crimeia por Moscou, a situação mudou. Mudou-se não apenas o local da cúpula, mas também a lista de convidados. Os líderes de Reino Unido, França, Itália, Alemanha, Japão, Canadá e Estados Unidos desconvidaram a Rússia.

Desde o início da década de 1990, a Rússia fazia parte do G8. O convite para o secretário-geral do partido comunista russo, Mikhail Gorbatchev, fazer parte da aliança dos países mais industrializados do mundo foi uma recompensa pela abertura política em Moscou e a aproximação com o Ocidente.

“O grupo nunca foi de fato G8, mas sempre G7/G8, pois a Rússia não fazia parte das negociações financeiras realizadas em nome do grupo”, diz a coordenadora do departamento para Leste Europeu e Eurásia do instituto alemão SWB, Sabine Fischer.

Na maioria dos encontros de cúpulas, o trabalho em si é realizado em um nível ou dois abaixo dos chefes de Estado ou de governo: ou seja, por secretários ou ministros. E quando os ministros da Economia do G7 se encontravam, a Rússia ficava sempre de fora.

Sem dependência do Ocidente

O cancelamento da reunião em Sochi foi pensada também para atingir Vladimir Putin pessoalmente. Foi por uma iniciativa do próprio presidente russo que se optou pela transformação cara e dispendiosa do balneário de veraneio em uma cidade de esportes de inverno e em um centro de conferências internacionais.

“Ele foi questionado sobre o que achava de ser desconvidado da reunião da cúpula de líderes do Ocidente. Putin deu de ombros e disse e daí”, lembra Fischer, sobre uma entrevista que o presidente concedeu para a televisão russa.

Segundo o cientista político Patrick Rosenow, da Universidade de Jena, Putin deu de ombros porque Moscou não depende do G7/G8. “Muitos outros grupos dos quais a Rússia faz parte continuam sendo importantes. Por exemplo, o Conselho de Segurança da ONU ou o G20, composto pelos principais países industrializados e em desenvolvimento. Essa exclusão parece não incomodar o país nesse momento”, afirma.

Pelo contrário: a anulação do convite para ter sido boa para Putin, opina Fischer. Segundo a especialista alemã, aparentemente a visão dominante em Moscou é: “Nós não precisamos mais dessas relações estreitas com o Ocidente. Nós nos voltamos para a Ásia e procuramos uma parceria mais estreita com a China”.

Novos horizontes

Rosenow afirma que Putin procurou com sua política externa, nos últimos dez anos, formar um contrapeso com o Ocidente. E isso ele já teria conseguido ao declarar: “O G7 não passa de clube dos Estados ocidentais e nós não queremos ter mais nada com ele”.

Dois indícios parecem confirmar essa posição. A assinatura de um acordo com a China, para fornecimento de gás e, especialmente, a criação da União Econômica Eurasiática. “A tentativa de criar uma união econômica com a Bielorrússia e o Cazaquistão mostra que Putin não está mais interessado em uma ligação forte com o Ocidente, mas ele quer ter mais opções para ampliar mundialmente suas possibilidades de influência”, exemplifica o cientista político.

Os setes países industrializados também querem deixar suas opções em aberto. Segundo Rosenow, a exclusão da Rússia no encontro do G7 é uma ação balanceada do Ocidente, entre sanções e esforços para não acabar com as conversas com Moscou.

Ele acrescenta que o G7 não poderia fazer nada errado. Seu grupo é, em comparação, uma aliança solta, da qual a Rússia pode imediatamente voltar a fazer parte. “A vantagem dessa medida é sua flexibilidade”, afirma.