Porta-voz da Globo, Merval Pereira bancou Alexandre Garcia nesta quinta e mostrou que a imparcialidade passa longe do jornalismo da empresa carioca.
Vendeu o discurso débil, lido, de Moro, na assinatura com o Podemos, como um espetáculo da terra.
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Desmentindo grande parte dos políticos, e mesmo eleitores, que não viam nele condições de se sair bem numa disputa à Presidência da República, o ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro teve uma boa largada no primeiro discurso público como pré-candidato, na assinatura de sua filiação ao Podemos. A manhã já fora de boas notícias para ele, com a pesquisa Quaest/Genial o colocando como terceira opção dos eleitores no momento, à frente numericamente de Ciro Gomes, mas empatado tecnicamente.
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Ciro está em sua quarta eleição presidencial e acaba de dar uma demonstração de força dentro do PDT, levando o partido a reverter os votos na PEC dos Precatórios, votando majoritariamente contra. O fato de Luiz Henrique Mandetta ter sido o único dos pré-candidatos da terceira via a ter ido à solenidade demonstra não apenas que eles reconhecem pelo menos o potencial que Moro representa, mas também como será difícil haver uma união entre eles para uma candidatura única contra Lula e Bolsonaro.
A de Moro tem a possibilidade, como demonstrou em seu discurso, de abocanhar pedaço importante do eleitorado de Bolsonaro, como também de impedir que esses eleitores decepcionados com o presidente, especialmente a classe média brasileira, se voltem para o voto nulo ou até mesmo para Lula.
O próprio PT está trabalhando para isso, pois assusta essa mesma classe média quando dá ares democráticos à “eleição” do ditador da Nicarágua Daniel Ortega ou quando Lula afirmou, meses atrás, que o Partido Comunista da China deveria ser exemplo para outros países. Confirmando, assim, o que disse sobre a Venezuela de Maduro, que teria “democracia em excesso”.
Moro apenas leu um texto
Moro foi inteligente para não deixar que os adversários explorassem sua voz característica, assim como Doria já desmontou a ironia bolsonarista de suas calças apertadas. Disse Moro: “O Brasil não precisa de líderes que tenham voz bonita. O Brasil precisa de líderes que ouçam a voz do povo brasileiro”. Mas ficou evidente que ele andou tomando aulas de dicção.
Merval defende a ‘farsa’ da Lava Jato
A defesa do combate à corrupção e, sobretudo, da Operação Lava-Jato era parte necessária do discurso, embora Moro tenha acertado ao não restringi-lo ao tema. Mas, no momento em que os procuradores de Curitiba estão sendo perseguidos pelo Tribunal de Contas da União (TCU) sobre diárias e passagens já aprovadas tecnicamente pelos próprios órgãos fiscalizadores do mesmo TCU, era preciso defender sua atuação, pois esse é obviamente o flanco exposto depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) o considerou suspeito nos processos contra o ex-presidente Lula.
“Eu sempre fui considerado um juiz firme e fiz justiça na forma da lei”, afirmou. E passou a relatar os sucessos da operação, que recuperou cerca de R$ 14 bilhões roubados do dinheiro público. Nesse ponto, Moro revelou que foi aconselhado a não falar sobre corrupção, que já não seria o tema principal da agenda brasileira, mas falou: “Precisamos falar sobre corrupção. (…) As estruturas do poder foram capturadas. A busca do interesse público foi substituída pela busca egoísta dos interesses próprios e dos interesses pessoais e partidários.”
Outro flanco que terá de defender durante a campanha, Moro já começou a abordar no discurso de ontem: o fato de ter aceitado ser ministro da Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro. Disse ter sido “boicotado” pelo presidente e que “continuar como ministro seria apenas uma farsa. Nenhum cargo vale a sua alma”. A seu favor, o fato de ter pedido demissão, abrindo mão de uma possível indicação para o Supremo caso seguisse sem reagir às orientações de Bolsonaro.
O pré-candidato do Podemos não deixou de lado os problemas atuais prementes, como desigualdade e pobreza, anunciando que criará uma “força-tarefa de erradicação da pobreza”, além de uma “Corte nacional anticorrupção”, provavelmente retirando do STF os processos criminais. Abordou questões como meio ambiente, prometendo retomar a liderança no combate à poluição ambiental e ao desmatamento da Amazônia. Aos órfãos da política liberal de Paulo Guedes, defendeu a abertura da economia e o livre mercado, mas “com solidariedade e compaixão”.