‘Intenções de Moro eram eleitorais’: cientista político francês fala ao DCM sobre Lava Jato e a visita de Lula à Europa

Atualizado em 20 de novembro de 2021 às 17:53
Lula
Lula em conferência terça-feira, 16, em Sciences Po Paris sobre o futuro do Brasil no cenário internacional. Foto: Willy Delvalle/DCM

“Essas cerimônias foram sucesso”, disse Gaspard Estrada, moderador da conferência de Lula no Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po) na terça-feira (16), em alusão à agenda do ex-presidente na capital francesa.

Em entrevista exclusiva ao DCM, o cientista político considerou positiva a recepção estudantil.

“Penso que os estudantes de Sciences Po ovacionaram o ex-presidente Lula”, diz.

De acordo com a assessoria de imprensa da Sciences Po, mais de 500 pessoas assistiram ao evento. “Ele fez um discurso marcante sobre os grandes equilíbrios internacionais, a necessidade de reforçar o multilateralismo”, considera.

O diretor do Observatório da América Latina e Caribe (OPALC) também acompanhou a cerimônia de atribuição do prêmio Courage Politique ao ex-mandatário. “Mudar de política externa e sobretudo voltar ao que o Brasil foi outrora, um país que era respeitado pelos seus pares. Em síntese, essa foi a mensagem do ex-presidente Lula. Penso que ele foi bem recebido em Paris”.

Estrada elucidou o papel da Lava Jato na imprensa internacional, através de artigos publicados em jornais como Le Monde e The New York Times. Na visão do cientista político, a Operação Lava Jato perdeu sua credibilidade internacional, o que ele atribui a fatores internos do Brasil, que ele explica na entrevista a seguir.



DCM: Qual é o seu balanço da conferência de ontem (terça-feira), da cerimônia do prêmio Courage Politique, assim como da coletiva de imprensa?

Gaspard Estrada: Essas cerimônias foram um sucesso. Penso que os estudantes de Sciences Po ovacionaram o ex-presidente Lula. Havia até uma batucada que o recebeu. Ele fez um discurso marcante sobre os grandes equilíbrios internacionais, a necessidade de reforçar o multilateralismo.

Desse ponto de vista, o discurso que ele deu esta manhã aos membros da revista Politique Internationale vai no mesmo sentido: a necessidade de reformar as instituições internacionais, recuperar o Brasil, mudar de política externa e sobretudo voltar ao que o Brasil foi outrora, um país que era respeitado pelos seus pares, que tinha um papel de potência em ascensão e que hoje o mundo não pode ser governado como em 1945, quando as Nações Unidas foram criadas. Em síntese, essa foi a mensagem do ex-presidente Lula. Penso que ele foi bem recebido em Paris.

DCM: A Operação Lava Jato está sendo derrotada enquanto imagem no exterior?

Gaspard Estrada: Penso que a narrativa da Operação Lava Jato foi minada consideravelmente.

Em primeiro lugar, porque a própria justiça brasileira afirmou que os julgamentos emblemáticos dessa operação foram parciais, que não foram conduzidos conforme as regras do direito. Desse ponto de vista, a justiça brasileira emitiu um ponto de vista bastante raro, que reforça seu peso.

Assim sendo, assistimos a uma descredibilização midiática, considerando que o ex-juiz Moro é hoje pré-candidato à presidência da República, o que reforça a análise que havia sido feita pelo advogado do ex-presidente Lula, que havia sempre afirmado que as intenções do juiz Moro eram eleitorais e que não tinham um objetivo judiciário.

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Em Paris, Lula teve uma agenda de presidenciáveis. Ele se reuniu com o presidente Emmanuel Macron, a prefeita de Paris Anne Hidalgo, o ex-presidente François Hollande e o líder do partido La France Insoumise Jean-Luc Mélenchon. Hidalgo e Mélenchon são candidatos à presidência francesa, enquanto Macron quer se candidatar à reeleição.

Lula seguiu na noite de quarta-feira para a Espanha. Na quinta, participou do seminário “Cooperação multilateral e recuperação regional pós-Covid-19”, na Casa América, onde defendeu o combate às desigualdades econômicas e sociais no mundo.

Reuniu-se ainda com o presidente do governo espanhol Pedro Sánchez em Moncloa, sede do governo espanhol.

“A Espanha e o Brasil compartilham fortes vínculos estruturais e permanentes em diferentes âmbitos. Hoje, eu me reuni com seu ex-presidente, Lula, para abordar vários assuntos de interesse comum, como a situação da pandemia, as mudanças climáticas ou a recuperação econômica”, disse Sanchez nas redes sociais.

Depois de ter passado por Berlim, Bruxelas e Paris, Lula encerra agenda europeia na capital espanhola neste sábado.