Lula é favorito, mas terá muitos obstáculos pela frente. Por Emir Sader

Atualizado em 2 de dezembro de 2021 às 16:36
Lula favorito obstáculos
Lula e seu trabalho para vencer as eleições

A maior pergunta hoje no Brasil é: Lula será o próximo presidente do Brasil. Ninguém mais jura pela reeleição do Bolsonaro. Mas, nem por isso, o caminho está livre para o Lula.

A direita está dividida: uma parte até se resigna a conviver de novo com o Lula na presidência do Brasil. Provavelmente é hoje ainda um setor minoritário, que pode crescer ao longo do tempo. Não coincidem com o programa de governo do Lula, são neoliberais e sabem que o governo do Lula irá em outra direção: retomada dos investimentos produtivos, prioridade na geração de empregos formas e nas políticas sociais. Mas consideram que podem, como ocorreu no governo anterior do Lula, conviver com o programa do ex-presidente.

Consideram que a situação do Brasil e da sua economia é desastrosa, somente um presidente com experiência e muito apoio pode fazer com que se tenha um governo com legitimidade, que possa fazer com que o Estado brasileiro volte a funcionar, que a economia volte a crescer, que o Brasil recupere o prestigio no mundo. Sabem que esse governo não atenderá prioritariamente os interesses dos bancos privados e do capital especulativo. Mas tem que se conformar com um governo do Lula, como preço a pagar por terem colocar na presidência a quem fez o Brasil chegar na pior crise da sua historia.

A direita sabe que não será o seu governo. Tentará, com seus meios – especialmente os meios de comunicação – condicionar ao máximo um novo governo do Lula. Retomará as denuncias de corrupção, fará oposição à política econômica do governo, usará sua forca no Congresso para bloquear os projetos do governo com que não concorde.

E se prepara para as próximas eleições, com candidaturas próprias, para tentar impedir a continuidade do PT no governo.

Outros setores se opõem frontalmente à possibilidade de um novo governo do Lula. Buscam candidatos que possam disputar nas eleições. Estão divididos entre o Bolsonaro. Não são diferenças programáticas, mas sobre as possibilidades eleitorais de cada um.

Esse núcleo duro jogará com todas suas forcas para impedir o retorno do Lula ao governo. A utilização do tema do governo da Nicarágua já dá uma mostra de um tipo de ação de tentativas de desgaste do Lula.

O PT e o Lula serão acusados de não ser democráticos, a partir da posição do partido sobre países como Cuba, Nicarágua e Venezuela. Qualquer imprecisão na posição do PT será explorada.

A posição do PT é a de que os povos desses países devem decidir sobre os seus destinos, sem nenhum tipo de intervenção externa. A condenação da posição norte-americana de intervenção e derrubada dos governos desses países.

O PT apoia as medidas econômicas e sociais dos governos desses países que favorecem os direitos de toda a população, que se opõem ao neoliberalismo e o capitalismo. Mas não toma como seu o sistema político desses países.

Recentemente o próprio Lula criticou a Daniel Ortega por sua candidatura, por se opor à reeleição indefinida. Ele mesmo, depois de reeleito e com 87% de apoio dos brasileiros, não aceitou se candidatar a um terceiro mandato, por algum tipo de mudança constitucional e lançou a candidatura da Dilma.

O PT é um partido profundamente democrático, com amplo debate interno, mediante a presença de correntes e da participação livre de todos os seus membros. Além de promover debates com movimentos sociais e com organizações civis, de ter uma mídia aberta para divulgar esses debates.

Essa uma primeira armadilha que se tratará de colocar para o PT e o Lula, que devem ser encaradas com rigor e seriedade.

Mas esta é somente uma delas. Denuncias pipocarão ao longo de toda a campanha, fakenews, acusações sem fundamento, entre outras iniciativas. Os meios de comunicação serão instrumentos da campanha da direita contra o Lula e o PT. A disputa das ideias será central, não apenas a disputa política. Será preciso ganhar politicamente, mas também ganhar na luta da ideias.

Em 2002 se venceu politicamente, mas as ideias neoliberais continuaram dominantes na sociedade. Isso colocou limites aos governos do PT. Que puderam fazer governos que priorizaram as políticas sociais e não o ajuste fiscal, mas não realizar reformas profundas, que alterassem estruturalmente a economia, o Estado e as relações sociais. Reforma tributaria, reforma do Estado, do sistema político, democratização do Judiciário, entre outras, que ficaram pendentes.

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Lula é claramente favorito, mantém, nas pesquisas, um patamar alto, com distancias grandes em relação aos outros candidatos. Mas há quase um ano até o primeiro turno das eleições. É muito tempo, muitas tentativas antidemocráticas de impedir a vitória do Lula virão. É preciso estar preparados para enfrentá-las, com respostas e com mobilizações populares.

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