Não olhe para cima, da Netflix, é o retrato apocalíptico do negacionismo. Por Tiago Barbosa

Atualizado em 25 de dezembro de 2021 às 19:44
Leonardo Di Caprio olhando para um celular com colega de elenco do filme Não Olhe para Cima, da Netflix
Não Olhe para Cima nos lembra do negacionismo atual – Foto: Reprodução/Netflix

A sátira apocalíptica da Netflix “Não olhe para cima” é excelente para constatar como o uso político e comercial do negacionismo produz destruição e estupidez para concentrar poder e riqueza nas mãos de poucos canalhas.
A ameaça ficcional do cometa bem poderia ser a realidade atual da pandemia.

O filme evidencia as faces do menosprezo ao conhecimento e como uma sociedade individualista se molda para extrair vantagem de perigos reais – mesmo às custas da sobrevivência coletiva.

A inversão paradoxal de prioridades e valores escancara superficialidades e um vazio visceral doentio de sistema egoísta engrenado sob cadáveres de desfavorecidos – porque os abastados, claro, têm sempre um plano para escapar das idiotices por eles executadas.

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Tem um paralelo bem aflitivo com projetos negacionistas de essência autoritária e neoliberal capazes de manipular a vida como mercadoria descartável para atender plataformas de poder político ou econômico.
Dá para lembrar da vidas arruinadas pelas torturas e delações da Lava Jato, pela recomendação sem aval científico da cloroquina no Brasil, pela realização de reformas responsáveis por desemprego em massa e pauperização do Brasil.

Sem mencionar a sutileza da mensagem embutida no título – “Não olhe para cima” -, uma frase-síntese perfeita do culto à ignorância para manter um exército de gente alienada como gado, com olhos fixos na direção da desinteligência e do chão.

Esse bem poderia ser o slogan cunhado sob medida para tanger a massa desinformada pelo WhatsApp, Telegram ou pelo cercadinho bolsonarista.

O filme tem um elenco de peso, com Leonardo DiCaprio, Cate Blanchett, Meryl Streep e Jennifer Lawrence, em atuações inquietantemente convincentes sobre o papel de cada um – contra ou a favor – no circo do obscurantismo.

É uma boa sessão para refletir e – custa nada – abrir bem os olhos para a ignorância dos nossos tempos.