O ano em que as instituições reagem ou são comidas pelo bolsonarismo. Por Moisés Mendes

Atualizado em 2 de janeiro de 2022 às 23:05
Instituições
Foto. Reprodução

As instituições do chamado sistema de Justiça não poderão mais escamotear diante dos desafios de vida ou morte que o Ministério Público e o Judiciário têm em 2022.

Nenhuma desculpa poderá adiar desfechos para os crimes cometidos pela extrema direita, nas mais variadas frentes, nem mesmo sob o pretexto de que este é um ano de eleições. Chega de desculpas.

Há casos pendentes, alguns em estado de putrefação, que envolvem Bolsonaro, os filhos de Bolsonaro, os cúmplices da família, os financiadores de fake news e do gabinete do ódio. E tem a lista da CPI do Genocídio com os pedidos de indiciamento de 81 pessoas.

Não pode ficar como pergunta sem reposta a questão central do relatório da CPI; as instituições terão condições de levar adiante as investigações, o enquadramento e a condenação de Bolsonaro, de generais, de coronéis e de gente sem farda e fardada que atuava nas entranhas da pandemia?

As facções envolvidas com os negócios da cloroquina e da vacina serão submetidas ao rigor das leis em 2022, ou o MP e o Judiciário irão sucumbir às manobras protelatórias e às pressões do submundo da política?

Nomes de protagonistas que se repetem no noticiário do bolsonarismo, como o do empresário Luciano Hang, ficarão impunes? O véio da Havan e outros denunciados pela comissão continuarão escapando do cerco da Justiça?

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Passa também por essas dúvidas o caso de donos e médicos da Prevent envolvidos no que se consagrou chamar de a clínica da morte, com a manipulação de tratamentos e de certidões de óbitos.

Médicos acusados da fraude de atestados, e que estão na lista da CPI, vão assumir sozinhos as culpas por atos que caracterizam crimes graves? Não é uma questão banal.

Como não é singela a dúvida sobre a capacidade de MP e Judiciário de conduzir sem temores os casos envolvendo os oficiais de Pazuello e seus negociadores de vacinas dentro do Ministério da Saúde.

É muito mais do que investigar e julgar omissões e ações negacionistas. É perseguir a verdade em torno das quadrilhas organizadas dentro do governo para comprar e vender vacinas superfaturadas e que muitas vezes nem existiam.

No dia 29 de setembro, quando do depoimento do véio da Havan, o senador Humberto Costa afirmou; “O senhor Luciano Hang está rindo porque acha que a CPI não vai dar em nada, que é uma brincadeirinha. Vai dar, vai dar”.

Será mesmo que vai dar? Será que o véio não continuará rindo? E será que o Congresso retomará a CPI das Fake News? O Supremo conseguirá se impor diante dos dribles da Procuradoria-Geral da República de Augusto Aras?

Em 2022, o Supremo terá de provar que não mais ficará resignado e assustado diante de constrangimentos semelhantes aos impostos por Sergio Moro na Lava-Jato. E que Alexandre de Moraes não estará sozinho na luta contra os crimes do bolsonarismo.

Será o ano em que o sistema de Justiça terá de provar que de fato funciona e que não enfrenta apenas nomes da série C da extrema direita de Sara Winter, Allan dos Santos, Daniel Silveira e Roberto Jefferson.

(Originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES)

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