O Jornal Nacional conseguiu fazer um malabarismo retórico em sua última edição que honra anos e anos de manipulação.
Numa matéria sobre a mudança de ânimo da imprensa estrangeira com relação à Copa, citou jornais como o NY Times e El Pais, além de revistas como Economist e Der Spiegel (com a famosa capa da bola como um asteróide em direção ao Brasil e a chamada sensacionalista “A morte e os jogos”).
“A revista inglesa ‘The Economist’ também diz que as expectativas que eram baixas foram superadas. No blog da internet, a revista conclui que, no fim, o visitante estrangeiro vai levar do Brasil uma mistura de hospitalidade, futebol bonito e preços além da conta”, dizia a repórter em Nova York, alterando ligeiramente a voz por estar, aparentemente, num bar lotado de torcedores americanos.
“O ‘Le Monde’, um dos mais respeitados jornais da França, chama o sucesso da Copa de ‘milagre brasileiro’ e afirma que ‘o Brasil organiza um Mundial à sua maneira: desordenado e simpático, despreocupado e acolhedor’”. Etc etc.
Opa. Não houve qualquer menção à mídia brasileira, é evidente. Seria demais esperar um mea culpa, por exemplo, de um editorial catastrofista do Globo em maio — portanto à beira do mundial –, afirmando que “não consolam fotos de jogos da Copa de 50 em que aparece um Maracanã ainda com enormes andaimes nas arquibancadas. As cenas podem não se repetir, mas o que foi prometido, quando o país, em 2007, conquistou a escolha da sede da Copa de 2014, não será entregue. Este jogo está perdido”.
Um amigo comparou a matéria do JN a “um porco falando do bacon”. É também mais uma amostra da subserviência aos interesses comerciais, a mesma que faz com que a cobertura de Fórmula 1 seja uma piada e que torneios cujos direitos a Globo não tenha não virem notícia para William Bonner.
O Jornal GGN publicou um bom dossiê com as previsões mais cabeludas sobre a Copa. Reproduzo aqui.