Por Miguel do Rosário
Segundo Robert Dahl, um dos principais teóricos de democracia do Ocidente, “aquilo em que acreditamos influencia não só o que queremos que aconteça, mas também o que efetivamente pensamos que acontece”.
A frase consta do capítulo “As crenças de ativistas políticos”, de seu clássico Poliarquia, um dos livros que pretendo usar no enfrentamento deste que será um dos anos mais determinantes de nossa geração.
As eleições de 2022, queiram ou não aqueles que temem as consequências políticas de uma polarização deste tipo, serão um plesbiscito sobre tudo que vivemos e sofremos desde o golpe de 2016.
Passemos à análise da primeira pesquisa do ano, feita pela Quaest, instituto dirigido pelo cientista político Felipe Nunes, e que vem divulgando relatórios mensais desde julho de 2021. A íntegra do relatório pode ser baixada aqui.
É também a primeira cujos dados foram inteiramente abertos, até por conta da legislação eleitoral, incluindo seus custos.
Com 2 mil entrevistas presenciais realizadas entre os dias 6 e 9 de janeiro, a sondagem custou exatamente R$ 252.214,82, pagos pelo banco Genial Investimento, conforme nota fiscal disponibilizada no site do TSE.
A propósito, os responsáveis pela pesquisa Genial/ Quaest fizeram uma live nesta terça para explicar os números:
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Comecemos pelos votos espontâneos, que são aqueles onde o entrevistador não apresenta nenhuma lista de nomes: o eleitor responde “espontaneamente” em quem deseja votar para presidente em outubro de 2022.
Para efeito de comparação, os dois principais candidatos da “terceira via”, Sergio Moro e Ciro Gomes, se mantém estagnados em 1% desde o início da série.
Na estimulada, segundo uma média de todos os cenários, Lula aparece na liderança, com 45%, seguido de Bolsonaro, com 23%. Sergio Moro consolida seu terceiro lugar, com 9%, 4 pontos acima de Ciro Gomes, que pontua 5%.
Curiosamente, todos os quatro principais candidatos perderam 1 a 2 pontos, mas relativamente o que perdeu mais foi Ciro Gomes, porque é muito diferente cair de 47% para 45%, como experimentou Lula, do que de 7% para 5%. Além disso, Lula vem mantendo um patamar estável desde julho de 2021. Ciro Gomes, não. O ex-governador do Ceará iniciou a série com 11%, e hoje tem 5%.
A explicação para a desidratação de Ciro Gomes não é apenas a entrada de Sergio Moro. Deve-se considerar que é, possivelmente, também uma consequência de sua própria estratégia de marketing.
O Quaest perguntou aos entrevistados qual a sua “segunda opção de voto”, ou seja, qual o candidato que o eleitor poderia votar, caso mude de ideia. Os resultados explicam as dificuldade vividas por Ciro Gomes.
Segundo a pesquisa, 40% dos eleitores atuais de Ciro tem Lula como “segunda opção”. Isso significa que Ciro ainda pode perder para o petista quase metade dos 5% que ainda tem, caso estes eleitores entendam que seu voto será importante para uma vitória do petista no primeiro turno.
Em live hoje, o CEO da Quaest, observa que “o eleitor de Ciro não acredita mais que o seu candidato vai para o segundo turno, então é o que está mais preparado para migrar para outro candidato”. Este candidato seria Lula, que assim tem um potencial de crescer mais alguns pontos percentuais ao herdar o voto cirista.
Num eventual segundo turno entre Lula X Bolsonaro, 58% dos eleitores de Ciro votariam em Lula, e apenas 16% em Bolsonaro. Interessante notar ainda que 50% dos eleitores de Doria votariam em Lula no segundo turno, contra 23% que votariam em Bolsonaro. Lula ganharia votos até mesmo de eleitores de Sergio Moro: 26% de seus eleitores disseram que votariam no petista no segundo turno, contra 36% que optariam por Bolsonaro.
Agora vejamos as intenções de voto no segundo turno. O que mais chama atenção é a vantagem de Lula, superior a 20 pontos, contra todos os seus adversários. Num eventual segundo turno contra Ciro Gomes, a vantagem de Lula seria a maior de todas: 31 pontos.
A pesquisa também fez a avaliação do governo do presidente Bolsonaro. Na média, houve estabilidade. Entretanto, na segmentação por sexo, houve uma piora acentuada entre os eleitorado feminino.
O governo Bolsonaro é mal avaliado nas três principais categorias de renda. Vale destacar a sua piora expressiva entre eleitores com renda média familiar acima de 5 salários, cuja avaliação negativa bateu recorde de 52%.
É muito problemático, para o governo Bolsonaro, essa deterioração junto aos eleitores de renda média, porque é justamente o segmento onde ele também tem mais apoio. É um segmento mais ativo em redes sociais, junto ao qual, portanto, há tendência da rejeição contaminar o resto da sociedade.
Bolsonaro viu piorar, em relação a dezembro, a sua avaliação em todas as regiões. No Sul, por exemplo, a imagem negativa do governo Bolsonaro subiu de 40% para 48% no último mês.
Interessante observar ainda que Bolsonaro reduziu sua rejeição entre o eleitorado evangélico, que havia atingido um ápice de 42% em novembro, caiu para 35% em dezembro, e agora está em 36%. Mas ainda é uma rejeição superior à aprovação positiva neste segmento, que era de 31%.
A principal razão para a deterioração detectada na avaliação do governo, segundo textos e gráficos divulgados pelo próprio Quaest, é a pandemia de Covid 19. A chegada da nova variente Omicrôn ao Brasil assustou a população: 69% dos entrevistados disseram estar “muito preocupados”. Ao mesmo tempo, a rejeição ao desempenho do presidente Bolsonaro no combate a Covid subiu para 54%; entre mulheres, subiu para 61%!
Outro dado interessante: o governo Bolsonaro agora é mal avaliado entre os próprios eleitores de Bolsonaro. Segundo a Quaest, 36% dos eleitores de Bolsonaro em 2018 hoje consideram que seu governo é “pior do que esperava”, contra 29% que acham que é “melhor do que esperava”, e 34% que acham que não é “nem melhor nem pior”.
Outro fator que, seguramente, tem sido determinante para a deterioração de Bolsonaro é a crise econômica. Para 51% dos entrevistados, a sua “capacidade de pagar as próprias contas” piorou nos últimos três meses.
Voltando ao primeiro turno. O gráfico abaixo mostra que Bolsonaro lidera apenas entre os eleitores que consideram a corrupção como principal problema do Brasil. Entre os que dão prioriedade a outros problemas, como questões sociais, saúde, economia, a vantagem de Lula é muito grande.
No gráfico de conhecimento e voto, nota-se a baixa rejeição de Lula em relação aos principais candidatos. Segundo a Quaest, 43% dos entrevistados responderam que conhecem Lula e não votariam nele, percentual que chega a 66% para Bolsonaro, 59% para Moro e 58% para Ciro. E com uma diferença importante; 36% dos entrevistados responderam que conhecem Lula e votariam nele; contra 18% para Bolsonaro, 5% para Moro e 4% para Ciro.
No gráfico abaixo, com a pergunta sobre a preferência de vitória entre as três grandes opções; Lula, Bolsonaro ou nem-nem, Lula lidera com 44%, contra 23% de Bolsonaro e 26% do nem-nem.
Convertendo os votos totais no primeiro turno para votos válidos, Lula venceria no primeiro turno, segundo a Quaest, com 52,3%.
(Texto originalmente publicado em O CAFÉZINHO)
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