Janio de Freitas, que pertence à esquálida cota de pensamento independente da Folha, nota em seu artigo deste domingo um contraste.
Uma pesquisa mundial do Gallup coloca os brasileiros como um povo essencialmente feliz e otimista. Na imprensa, e em pesquisas dos grandes institutos nacionais, o retrato é o oposto. Somos derrotados, miseráveis, atormentados.
Janio brinca no final dizendo se sentir cansado demais para explicar, ou tentar explicar, tamanha disparidade.
Não é fácil para ele se alongar nas razões, sobretudo porque a Folha é uma das centrais mais ativas de disseminação da visão de um Brasil horroroso.
A motivação básica por trás do país de sofredores cultivada pela imprensa é a esperança de que o leitor atribua tanta desgraça – coisas reais ou simplesmente imaginárias — ao governo.
Ponto.
É a imprensa num de seus papeis mais notáveis nos últimos anos: o terrorismo.
A Copa do Mundo foi um prato soberbo para este terrorismo. A imprensa decretou, antes da Copa, que o Brasil – ou melhor: o governo — daria um vexame internacional de proporções históricas.
Em vez do apocalipse anunciado, o que se viu imediatamente após o início da competição foi uma celebração multinacional, multicolorida, multirracial.
Turistas de todas as partes se encantaram com o Brasil e os brasileiros, e a imprensa internacional disse que esta era uma das melhores Copas da história, se não a melhor.
Note o seguinte: a responsabilidade por um eventual fracasso seria atribuída pela mídia ao governo. O sucesso real, pelo que se lê agora, tem vários pais, entre os quais não figura o governo.
O melhor artigo sobre o caso veio de uma colunista da Folha que se proclamou arrependida por ter ouvido o “mimimi” da imprensa.
Ela disse ter perdido a oportunidade de passar um mês desfrutando as delícias que só uma Copa é capaz de oferecer: viagens para ver jogos, confraternizações com gente de culturas diferentes e por aí vai.
É uma oportunidade única na vida – quando haverá outra Copa no Brasil – que ela perdeu por acreditar na imprensa.
Quem vai indenizá-la? O Jornal Nacional? A Veja? O Estadão? E a tantos outros brasileiros como ela vítimas do mesmo terrorismo?
Para coroar o espetáculo, o Jornal Nacional atribuiu a histeria pré-Copa à imprensa internacional.
Pausa para rir.
Mais honesto, infinitamente mais honesto, foi o colunista JR Guzzo, da Veja – o maior mestre que tive no jornalismo, a quem tenho uma gratidão eterna e por quem guardo uma admiração inamovível a despeito de nossas visões de mundo diferentes.
“É bobagem tentar esconder ou inventar desculpas: muito melhor dizer logo de cara que a imprensa de alcance nacional pecou, e pecou feio, ao prever durante meses seguidos que a Copa de 2014 ia ser um desastre sem limites”, escreveu Guzzo em seu artigo na Veja desta semana.
“Deu justamente o contrário”, continua Guzzo. “Os 600 000 visitantes estrangeiros acharam o Brasil o máximo e 24 horas depois de encerrado o primeiro jogo ninguém mais se lembrava dos horrores anunciados durante os últimos meses.”
Bem, não exatamente ninguém: o Jornal Nacional se lembrou. Não para fazer uma reflexão como a de Guzzo – mas para colocar a culpa nos gringos.
Recorro, ainda uma vez, e admitindo minha obsessão, a Wellington: quem acredita nisso acredita em tudo.
O JN parece achar que seus espectadores são completos idiotas.