Acossado pelo TCU e temendo o COAF, o ex-juiz Sergio Moro tuitou o seguinte: “Apesar da natimorta CPI e das ilegalidades do processo no TCU, eu, por consideração aos brasileiros e em nome da transparência que deve pautar a política, na sexta divulgarei meus rendimentos na empresa em que trabalhei.”
O que se conclui do texto confuso é que, com um ano de atraso, Moro pediu mais dois dias para divulgar os seus rendimentos na empresa em que trabalhou.
A confusão é ainda maior pois o único lugar onde Moro realmente trabalhou foi na magistratura, e a magistratura não é empresa.
Em uma entidade privada conhecida como empresa sabemos que ele nunca trabalhou — a menos que se considere como trabalho o prêmio que ele recebeu de empresas e/ou governo estrangeiro, intermediado pela Alvarez & Marsal, que atuou como laranja, repassando dinheiro alheio através de um contrato, no mínimo, estranho.
Moro nunca trabalhou na A&M.
NUNCA.
Não há um único rastro, uma única pegada deixada por ele nos escritórios da A&M. Como bem lembrou Fernando Haddad, derrotado em grande medida, em 2018, pela atuação da Lava Jato comandada pelo ex-juiz, em entrevista ao DCM: “O Moro deixou rastros dos crimes por todo lado”. Deixar rastros é especialidade inata a Sergio Moro. Só não os deixou na A&M.
Sergio Moro promete, para amanhã, a publicização de algum valor.
Por óbvio ele divulgará o valor rastreável pelo COAF e esconderá valores recebidos em outros países, que estão fora do alcance do COAF.
Qualquer que seja o número apresentado, será um valor falso, mentiroso. Ninguém precisa de um ano e dois dias para divulgar o valor a ser recebido por um contrato, discutido e assinado antes da sua execução.
A farsa de amanhã trará um alívio temporário às redações da mídia amiga e será apresentada como o xeque-mate de um grande mestre do xadrez.
Aquele que, segundo Vera Magalhães, “todos os dias chega em casa, tira aquele terno preto, aquela gravata preta, se senta em frente ao tabuleiro e estuda a próxima jogada.”
No entanto, no mundo real, fora da lavajatolândia, ninguém está disposto a ser enganado. Na quarta, dia 26, a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) declarou, em nota, que “a revelação dos valores não invalida a investigação sobre o caráter de sua verdadeira relação com a consultoria norte-americana e a possibilidade de cometimento de crimes como tráfico de influência”.
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É muito simples, para a A&M, esclarecer os pontos levantados pela ABJD. É só ela publicar os registros dos seus sistemas de “billing” e “tracing”. Empresas de serviços, que é o caso da A&M, usam sistemas de billing para o controle de suas receitas onde fazem a precificação, cobrança e controle dos serviços; para o controle dos pagamentos dos seus profissionais – pois vendem horas de serviços de profissionais – usam sistemas de acompanhamento de suas atividades (tracing).
Em dois cliques, o estagiário da TI produz esses dois relatórios fundamentais. A A&M divulgará o billing e o tracing? Provavelmente não. A A&M não fraudará seus registros para incluir, em ambos os sistemas, o nome fictício de Sergio Moro.
Não há o que fazer, pelo menos não no curto prazo. O estrago é enorme.
A A&M está encrencada. Ao deixar Sergio Moro se entalar em sua porta giratória, a A&M contratou um problema sem solução para gerenciar. Isso ficou claro na nota divulgada no início da semana onde, ao tentar esconder ao contrato-treta, jogou um enorme holofote sobre ele.
Para além da divulgação dos valores recebidos e mesmo que a A&M consiga a mágica de demonstrar que o “corpo físico” de Sergio Moro tenha se sentado, algum dia, numa cadeira de seus escritórios, o que realmente importa saber é se a Lava Jato, chefiada e conduzida por Sergio Moro, teve alguma participação e facilitação indevida nos contratos de Administração Judicial que colocou no aquário da A&M os dois maiores programas de reestruturação judicial da história brasileira.
Juntos totalizam R$ 110 bilhões em dívidas a serem administradas, uma mina de ouro incrustada de diamantes.