O canal DCM TV conversou com Angelo Bonelli, presidente nacional do Partido Verde italiano. Bonelli lidera o movimento que pede, na Justiça, a cassação do título de cidadão honorário de Anguillara Veneta, concedido há três meses a Bolsonaro.
Um dos signatários da ação popular encaminhada à Justiça Civil italiana, o líder do PV lembra que Bolsonaro não tem requisitos para ter recebido a honraria.
“Ela é destinada a personalidades que se dedicaram a promover e fizeram algo positivo pela cidade”, disse. “Não é o caso de Bolsonaro, alguém acusado no Brasil de causar a morte de 600 mil pessoas na pandemia, muitos deles índios, e que é acusado de cometer crimes contra a humanidade”.
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Anguillara Veneta é uma cidade de apenas 4,5 mil habitantes situada na região nordeste da Itália. É o berço da família do mandatário brasileiro.
Vittorio Bolzonaro – a mudança da ortografia no nome ocorreu por conta de um erro no cartório – saiu da região com sua família para o Brasil por volta de 1878.
A cidade é administrada pela prefeita Alessandra Buoso, filiada à Liga, partido de Matteo Salvini, líder da extrema-direita italiana e que se diz amigo de Jair.
Segundo Bonelli, a honraria ao mandatário brasileiro é uma articulação política para promover a extrema-direita italiana. “O regulamento para a dar o título de cidadão a alguém é rigoroso e estamos confiantes de que a Justiça será feita”, diz.
Bonelli contou que a cidade tem 12 vereadores, sendo apenas 4 de oposição.
Líder italiano do PV vive sob proteção policial
A representação, de 23 páginas, denuncia a prefeita Alessandra Buoso e oito vereadores. Pede que a resolução n. 27, com a qual foi concedida a cidadania honorária a Bolsonaro, seja considerada “ilegítima ou nula, pois a identidade e imagem da prefeitura foram lesados após terem sido associadas a expressão de valores conflitantes com os valores históricos, tradicionais e culturais do município de Anguillara Veneta”.
Bolsonaro recebeu a homenagem durante a Cúpula da ONU sobre Mudanças Climáticas, em Glasgow. Ele foi pessoalmente a Anguillara para receber a honraria diretamente das mãos da prefeita.
Curiosamente, o município ostenta o título de “cidade da paz e dos direitos humanos”.
Além de políticos, líderes religiosos locais também apoiam a iniciativa do PV.
Essa é a primeira vez que a Justiça italiana julga uma ação envolvendo a cassação de uma homenagem a um líder de outro país. “Sabemos que não é uma missão simples, por suas implicações diplomáticas e por se tratar de um país importante como o Brasi”, diz Bonelli. “Mas estamos confiantes”.
Extrema-direita italiana despertou o campo progressista no país
O líder do PV também falou sobre a ascensão da extrema-direita na Itália e comparou com o Brasil.
Disse que os extremistas focam sua propagando política especialmente junto ao público jovem, com foco em críticas aos movimentos de imigração.
“Martelam o tempo inteiro que as pessoas vêm de fora para tirar empregos e benefícios de italianos”, diz Bonelli, que alertou, no entanto: como no Brasil, o movimento despertou os críticos de políticas xenófobas e discriminatórias.
“É um movimento que cresceu, mas dá a sensação de que está perdendo força”, diz o presidente do PV.
Por receber frequentemente ameaças de morte, Bonelli conta com proteção policial concedida pelo governo do seu país. Ele é de Roma, mas vive numa cidade do interior.
Confira a entrevista abaixo: