Ontem de madrugada postei um mapa da expansão da OTAN e fiz uma pergunta sobre a aproximação dela em relação à Rússia.
Logo comecei a sofrer ataques de ancaps com a bandeira da Ucrânia, de perfis de centro-esquerda, perfis bolsonaristas e de alguns jornalistas verificados.
Como professor, o confronto de ideias não me incomoda – mesmo quando passa dos limites. Respondi (o que foi possível pela hora) de maneira firme e educada, até para estabelecer um diálogo pedagógico. Mas isso é pouco importante.
O que me preocupa é a qualidade dos argumentos e o que vou chamar aqui de “certeza da ignorância”: há perfis convictos que desconhecem a história russa e ucraniana, não compreendem a importância estratégica de um território como o da Ucrânia.
Não estudam a questão geopolítica e sequer sabem das negociações EUA-Rússia sobre a Alemanha – quando Moscou, após proposta estadunidense no início dos anos 1990, aceitou apoiar a reunificação alemã desde que Washington não expandisse a OTAN. Esse compromisso moral, mas verbal, foi traído por Bill Clinton e está sendo desconstruído todos os dias, a cada dia.
Outra questão que ignoram: a Rússia – com Putin – assinou a Declaração de Roma em 2002. Com isso, participa de modo débil da OTAN, exclusivamente por decisão dos 19 membros plenos na época.
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Desconhecimento sobre a Otan
Pior, sequer sabem que Josef Stálin considerou participar da OTAN em 1949 e encarregou A. Vichínski de negociar com os britânicos. Mas não obteve resposta.
Em 1952, o embaixador da França em Moscou, Louis Joxe, buscou uma reaproximação – que novamente fracassou: Stálin já considerava que a OTAN enfraquecia a ONU. Ou seja, mundo é mais complexo do que parece.
Sempre repito que Vladimir Putin é repugnante em termos de Direitos Humanos. Contudo, a “certeza ignorante” daqueles que defendem bovinamente a OTAN, apenas os transforma em ventríloquos dos EUA. E ainda são arrogantes, orgulhosos de apenas repetir platitudes. Vamos mal.
A Ucrânia resiste firmemente, buscando proteger sua soberania. Está certa. Uma agressão até transforma em herói um fraco como V. Zelensky, presidente comediante, co-autor dessa tragédia, sempre conivente com grupos neonazistas que apoiam seu governo, como os fatos comprovam.
Para concluir, enquanto algumas pessoas vivem a catarse da sua “certeza ignorante”, sentindo o prazer efêmero de uma lacrada, o povo ucraniano luta, “liderados” por um presidente patético que vive de provocações. E fica aqui a nossa vergonha: Jair Bolsonaro é pior que Zelensky.
Por fim, há uma outra certeza ignorante que não destaquei no fio: a OTAN não invade países. Repito: há quem diga que a OTAN não invade países. Não viveram o pós 11/9.
Por Daniel Cara, educador filiado ao PSOL, em seu Twitter.
Quem desiste primeiro?
— DCM ONLINE (@DCM_online) February 25, 2022