Uma pergunta se alastrou pela internet depois que a Folha publicou a informação de que Aécio mandara construir – ou reformar, segundo ele – um aeroporto numa fazenda de um tio. (Ele afirma que a fazenda já não era do tio quando recebeu a obra.)
Quem vazou?
É um caso antigo, de alguns anos. Não é um fato novo, propriamente. Por que isso não apareceu antes?
A informação não foi fruto de um trabalho de investigação jornalística da Folha.
Alguém passou ao jornal a informação. É assim que as coisas funcionam. Ao contrário do que as mentes ingênuas e românticas acreditam, os maiores furos jornalísticos quase não envolvem repórteres, editores, subeditores, fotógrafos e quem mais for.
Tudo se resume na entrega, para o veículo certo, de um dossiê que comprometa alguém.
Carlinhos Cachoeira é um símbolo disso, com os escândalos que forneceu à Veja. Pode-se dizer que nenhum repórter da Veja, nos últimos anos, foi tão produtivo quanto Cachoeira.
Quem viu House of Cards conhece o mecanismo que leva alguns políticos ao topo, e muitos ao abismo.
Na série, furioso por não ter recebido o cargo prometido pelo novo presidente americano, Francis Underwood vai passando informações comprometedoras sobre desafetos até chegar à Casa Branca.
Alguém entregou Aécio, isto é fato.
Mas quem?
Os internautas se agitaram em torno dessa pergunta.
O primeiro suspeito, nas especulações, é o suspeito de sempre: Serra. Em torno de Serra se construiu a lenda – ou a realidade, para muitos – de que ele é um mestre em produzir dossiês antiadversários.
Mas há pontas soltas nesta hipótese.
Se Serra tinha a informação, por que ele não a vazou quando disputava com Aécio a indicação do PSDB para as eleições presidenciais?
Alguns meses atrás, o aeroporto poderia ser fatal para as pretensões de Aécio de ser o candidato.
É de supor que, se Serra soubesse da história, se movimentaria na hora certa. É um homem inteligente.
Ou seria ele tão vingativo que, mesmo tendo acesso tardiamente a um dado letal para seu rival, optaria por vazá-lo mesmo sem outro proveito pessoal que não a desgraça alheia?
Muitos internautas apostam em Serra, com todas as ponderações que tornam seu nome fraco como suspeito.
A fama, a obra de Serra são maiores que a vulnerabilidade da hipótese de que foi ele o responsável pelo vazamento.
Pessoalmente, não acredito que tenha sido ele. A falta de um benefício claro para Serra do vazamento o inviabiliza, em meus esforços dedutivos, como suspeito.
Terá sido alguém do PT?
Não acredito. As relações entre o PT e as grandes empresas de mídia são muito ruins para que alguém do partido confiasse que um jornal como a Folha publicasse a denúncia.
Haveria o temor, imagino, de que a Folha não apenas rejeitasse o dossiê como o usasse contra o autor. E se Folha dissesse numa manchete que o PT tentara incriminar Aécio?
Toda a mídia cairia matando em cima do PT. Logo surgiria a velha pergunta: “Lula sabia?” O Jornal Nacional encontraria motivos para dar o assunto dias, semanas seguidas.
Haveria, em suma, a movimentação em massa que não existiu no caso do aeroporto. A mídia dá – esconde é um verbo melhor — o mínimo necessário para não passar vergonha.
Alguém viu uma matéria decente sobre a fazenda em si, por exemplo? Ou algum perfil sobre o tio de Aécio?
Se foi Serra – repito: acho que não foi – ele deve estar frustrado com a repercussão.
Seja quem for que tenha vazado, ele pôde comprovar uma máxima do jornalismo brasileiro destes tempos: denúncia só é boa quando é contra um petista.