Não será só uma nova eleição. É muito mais. O país se aproxima de uma encruzilhada histórica entre a democracia e a reconstrução ou o retrocesso e o autoritarismo golpista.
A consolidação das alianças entre PT, PCdoB, PV, PSOL, REDE, Solidariedade e PSB para as eleições presidenciais de 2022 pavimenta a construção de uma frente democrática. O que faz esses partidos, com lideranças e programas distintos, caminharem juntos são as mesmas razões que nos fizeram estar do mesmo lado na luta democrática de enfrentamento a ditadura militar.
Durante o regime de opressão, a oposição democrática, com todas as suas diferenças e divergências, se concentrava dentro do antigo MDB. E, ao longo da luta pela redemocratização, permaneceu unida no movimento das “Diretas Já” e na reconstrução do Estado Democrático de Direito.
Nas eleições deste ano, Bolsonaro se apresenta novamente como o candidato do autoritarismo, do negacionismo, da violência, da milícia e dos valores anticivilizatórios. Está cercado por militares e por uma ala ideológica fundamentalista, que segue tensionando, testando e ameaçando a democracia.
Todos sabem que o levantamento de falsas suspeitas sobre a segurança das urnas eletrônicas, que o ataque ao Judiciário e ao Congresso Nacional, e que as agressões contra a liberdade de imprensa, são parte de uma tentação golpista latente. Ele deverá aumentar a pressão para questionar o resultado das eleições.
Nunca é demais lembrar que Bolsonaro mesmo deixou explícita essa estratégia com o desfile militar na votação da emenda que revogava as urnas eletrônicas. E, no último 7 de setembro, tentou mobilizar a tropa de choque, associada a uma tentativa explícita de paralisação dos caminhoneiros e estímulos a um levante das polícias militares. É uma manobra preparatória para uma provável derrota eleitoral e questionamento dos resultados.
Apesar de ter entregado o governo ao Centrão e ao fisiologismo, com o orçamento secreto, que é o verdadeiro fundo eleitoral de sua candidatura, Bolsonaro segue como animador de sua base social contra a democracia e contra as instituições do país. Resta evidente que o presidente segue o mesmo roteiro golpista da sua grande referência política, o ex-presidente Donald Trump, que pressionou a democracia norte-americana a ponto de culminar na invasão do Capitólio, em janeiro de 2021. Até hoje, uma parcela do eleitorado de Trump acreditar que ele venceu Joe Biden.
Essa escalada autoritária nos recoloca diante dos mesmos desafios que nos uniram no enfrentamento da ditadura. Estivemos juntos na luta contra a ditadura e precisamos voltar para uma grande frente democrática, como é o simbolismo do encontro entre Lula e Alckmin. Ambos têm desprendimento, espírito público e profunda convicção. Sabem dos riscos que a democracia está correndo. Este é o verdadeiro lastro da aliança.
Agora, precisamos avançar na construção em torno de um programa de governo, que tenha como ponto de partida o Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil, com a definição de ideias-força e de propostos de impacto para a campanha.
Reconstruir um país que está com a maior inflação dos últimos 28 anos, com a carestia e a fome se alastrando nas periferias, com recorde de endividamento e inadimplência, sem crescimento econômico e gigantesco desemprego e precarização do mundo do trabalho.
O país vive um retrocesso sem precedente histórico no MEC e na educação. Profissionais do SUS têm que lutar contra o negacionismo e a sabotagem do governo. Ao mesmo tempo, há um esforço dos que acreditam na medicina para enfrentar a covid. Fora a cultura, completamente abandonada, e que vive agora sua maior crise. Sem falar no desmatamento e nas queimadas na Amazônia. Tudo isso gera uma onda de indignação, inclusive internacional.
A retirada da candidatura de Sergio Moro, que representava a antipolítica, o lawfare e a perseguição judicial, facilita o distensionamento com a chamada terceira via, que segue sem perspectiva eleitoral, mas que, apesar das profundas divergências programáticas, pode ser importante em um eventual segundo turno das eleições.
A vinda de Geraldo Alckmin, que liderava as pesquisas para o governo de São Paulo, para a chapa de Lula é uma conquista importante e estratégica. Além de contribuir com a diminuição da rejeição, especialmente no interior de São Paulo, no Sul e no Sudeste, abre-se uma janela de oportunidades para mudar a correlação de forças com a eleição de Fernando Haddad, líder portador de futuro para o PT, em São Paulo.
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Todo esse esforço de construção deve ser acompanhado da organização da militância e dos comitês de luta em todo o país. Nossos militantes precisam estar orientados e preparados para os enormes desafios de uma campanha dura e polarizada. E, claro, para o enfrentamento político do bolsonarismo nas redes e nas ruas.
A democracia como valor universal é o que nos fez estar juntos no passado. E é o que nos faz voltar a caminhar novamente lado a lado. Liderados por Lula, seremos capazes de reconstruir o Brasil, enfrentar os desafios da fome, da desigualdade, do desemprego e da volta da miséria, recuperar um Estado que estimule o investimento privado e garantir o direito de todos a políticas públicas essências para o pleno exercício da cidadania.