Publicado na DW.
Pela primeira vez, o Brasil se tornou o país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo, passando inclusive os Estados Unidos, líderes de longa data no ranking. Entre os fatores responsáveis por esse fenômeno, segundo especialistas, estão o aumento do poder aquisitivo da população e a propagação de padrões de belezas que valorizam um ideal de “corpo perfeito”.
Em 2013, mais de 11,5 milhões de procedimentos cirúrgicos estéticos foram realizados no mundo, 12,9% deles no Brasil (1,49 milhão). Os EUA ficaram em segundo lugar, com 1,45 milhão, seguidos do México, com 486 mil, e da Alemanha, com 343 mil.
“O corpo é um capital no Brasil e se tornou um mercado muito lucrativo. No caso das cirurgias plásticas estéticas, houve uma popularização em seu acesso, sendo que muitos médicos realizam pacotes e facilitam o pagamento, o que antes era apenas restrito às classes sociais mais abastadas”, avalia a psicóloga e mestre em antropologia pela Unicamp Andrea Tochio.
Os procedimentos mais realizados no Brasil foram a lipoaspiração (227 mil), o aumento das mamas por silicone (226 mil), a elevação dos seios (139 mil) e a abdominoplastia (129 mil).
Operações mais acessíveis
A melhoria das condições econômicas da população é citada pelo o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (Sbcp), João de Moraes Prado Neto, como um dos fatores que ajudam a explicar a expansão desses procedimentos no país.
O médico aponta também o aumento no número de cirurgiões plásticos, que estão cada vez mais aperfeiçoados, como outro fator nesse processo. O crescimento da concorrência e a consequente diminuição dos custos dos materiais contribuíram para reduzir o preço das operações.
Em cinco anos, o número de cirurgias plásticas realizados no país mais do que dobrou, passando de 629 mil em 2008 para 1,49 milhão em 2013. “Vivemos atualmente uma época do tributo à beleza, da tirania da forma, que me parece, às vezes, até um pouco exagerada, mas de qualquer maneira foi um dos motivos para elevar o número de cirurgias não só no Brasil, mas no mundo”, afirma Prado Neto.
“Pode-se afirmar que as cirurgias plásticas são maneiras de se adequar aos padrões de beleza atuais que associam beleza, juventude e magreza e, em especial no Brasil, o corpo trabalhado, cuidado, sem marcas indesejáveis, como rugas, estrias, celulites, manchas, e sem excessos, como gordura e flacidez”, avalia a autora do livro O psicólogo com bisturi na mão: um estudo antropológico da cirurgia plástica.
Padrões de beleza associados a situações positivas, como aceitação em círculos sociais, oportunidades ou melhores salários, e a esperança de solucionar problemas e melhorar a autoestima são alguns dos motivos que levam muitas pessoas a optar por uma cirurgia estética.
Riscos
Apesar da popularização, Prado Neto alerta que, assim como qualquer cirurgia, os procedimentos cirúrgicos estéticos também apresentam riscos. O especialista reforça que alguns fatores podem aumentar a seguranças nesses processos. Um deles cabe ao médico: a avaliação ampla do paciente para possíveis riscos cirúrgico e anestésico.
Outros dois aspectos estão nas mãos do paciente: a escolha do profissional e também do local onde a cirurgia será realizada. Prado Neto reforça que esse procedimento deve ser realizado por especialistas, que são certificados pela Sbcp. A sociedade possui mais de 5.500 integrantes e disponibiliza em seu site a lista de médicos qualificados.
“É preciso escolher um hospital ou uma clínica que tenha os alvarás autorizados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no que diz respeito a ambiente hospitalar e aparelhos”, explica Pardo Neto.
Ele reforça que é preciso ter cuidado, pois muitos profissionais que não são devidamente qualificados divulgam esses procedimentos como se fossem algo banal, como se estivessem vendendo cremes, produtos cosméticos ou eletroeletrônicos.
“As cirurgias plásticas quando bem indicadas e realizadas de uma forma segura trazem inúmeros benefícios, porém, a mídia e a sociedade devem caminhar juntas no sentido de problematizar e realizar uma análise crítica em relação aos limites e consequências da busca incessante ao ideal do corpo perfeito e tudo o que ele simboliza na sociedade brasileira”, opina Tochio.