Por Rudá Ricci
Mais uma vez, uma ou outra notícia tratada de maneira sensacionalista estimula pânico no campo progressista. Quem lida com Direito dificilmente admite que a lei se subordina à política. Por este motivo, não compreende o jogo e o uso político da lei.
O que Bolsonaro fez ao publicar seu decreto de perdão (não é indulto)? Usou a lei. Ponto. Nada mais que isso. Um decreto inofensivo tecnicamente, já que ainda há a possibilidade dos embargos de declaração por parte da defesa.
Então, por qual motivo o fez?
Porque Bolsonaro está 15% atrás de Lula nas intenções de voto. Esta história de que ele cresce nas pesquisas, além de tecnicamente um equívoco, diz respeito apenas à uma ínfima parcela do eleitorado, a dos mais ricos.
Então, Bolsonaro tenta sair das cordas.
Cria um fato político. O que ele mais desejava é o que parte do campo progressista – em especial, juristas – fez: morderam a isca. Não há absolutamente nenhum risco de golpe. O que houve foi o uso da lei, da Constituição. Usar a Constituição não é golpe. Pode ser provocação política, mas nunca será golpe. Justamente porque golpe se dá contra a ordem política e jurídica. Bolsonaro simplesmente reagiu e disse para seus seguidores que ele é um Pai para todos eles.
Com o que joga Bolsonaro? Com o medo, o pânico. Eu acredito que este decreto tenha sido o lance mais inteligente de Bolsonaro durante os quatro meses de 2022. Jogou com a covardia do campo adversário. E ela apareceu.
Li títulos sensacionalistas afirmando que este foi o primeiro passo para o golpe. Se contar todos os passos que títulos sensacionalistas já destacaram na direção do golpe, Forrest Gump teria sido superado em muitos quilômetros.
Vocês devem se lembrar dos títulos descompensados afirmando que não teríamos eleições, que haveria autogolpe, que as PMs fechariam o país, que o STF seria invadido. O blefe maior foi em 7 de setembro último.
Mas, a realidade é esquecida pelos covardes em poucos segundos.
Efetivamente não ocorreu absolutamente nada de especial. Bolsonaro baixou um decreto. E se calou. Parte do campo progressista fez o resto: correria, desespero, depressão, pânico. Assim fica fácil. É jogar sem bola. É viver de finta.
Tenho 59 anos de idade. Milito desde os 15 anos. Nunca vi tanta ingenuidade e falta de preparo para o jogo político como agora. É como assistir aqueles times café-com-leite em que todos correm atrás da bola. Não há defesa, ataque, tática, nada. Basta jogar a bola e todos correm atrás.
O jogo político é assim: o adversário raramente desiste. Então, se Lula abre vantagem, o certo é que os adversários reagirão. E o principal adversário do lulismo é o bolsonarismo. Ou alguém acha que Ciro Gomes é adversário à altura?
O que é surpreendente é perceber que qualquer casca de banana jogada é logo pisada com sofreguidão. Há algo de muito preocupante em termos de estrutura mental nesse pessoal que se desespera com o jogo. Dá a impressão que desejam que a eleição seja vencida por WO.
Enfim, o jogo é jogado. O decreto de Bolsonaro é apenas papel. Ele passa a ter sentido político se entra efetivamente como peça do jogo. E não estou falando do campo jurídico, mas do político. O que, afinal, é o que que conta. O resto é perfumaria.
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