O bolsonarismo está fazendo um movimento duplo na disputa política.
A primeira etapa, a mais evidente, é a tentativa de sequestrar a agenda nacional com manifestações abertamente golpistas (que não estão tendo resposta a altura da sociedade). Para esconder a fome, a carestia e o desemprego, ele parte para a mazorca. O enfrentamento é difícil, pois torna-se necessário combater tais atos sem colocá-los no centro da conjuntura.
A segunda, mais sofisticada, vem pelo Congresso e é comandada pelo Centrão. É o pacote de bondades, com destaque para o auxílio emergencial de R$ 400. Aqui o jogo é mais sofisticado. A quantia é muito mais alta do que qualquer valor concretizado pelas políticas compensatórias dos governos do PT. O mantra fiscalista do partido travava qualquer ousadia keynesiana de maior porte. Mas há formas de combater a demagogia oficial, a começar pelo fato de que a oposição há anos demanda valor maior. (Espero que economistas petistas não aleguem que as medidas são “populistas” e que gerarão desequilíbrio fiscal).
Bolsonaro não oscila nas pesquisas muito acima de seu patamar histórico, mas pode complicar a vida da oposição. Embora pareça grosseiro, seu jogo é ousado e nada simples. É uma herança do fascismo histórico: atacar sempre, nunca recuar.