Por Paulo Morotyn
A rejeição da população brasileira à presença de militares no governo disparou em 2022. A piora na avaliação coincide com o período em que foram divulgadas compras questionáveis das Forças Armadas, como os recentes escândalos envolvendo Viagra e próteses penianas e o uso de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS).
O levantamento também sucede um novo enfrentamento entre militares e o Supremo Tribunal Federal (STF). Na semana passada, o general Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa, respondeu a declarações do ministro Luís Roberto Barroso sobre uma suposta atuação das Forças Armadas contra o processo eleitoral.
Uma pesquisa divulgada pelo PoderData, realizada de 24 a 26 de abril deste ano, mostra que a taxa dos que consideram negativa a participação de militares no governo e na política subiu 9 pontos percentuais desde dezembro, subindo de 35% para 44%.
A avaliação positiva chegou a 43%, após uma oscilação positiva de dois pontos percentuais, no limite da margem de erro. O levantamento aponta que outros 8% acham que a presença de integrantes das Forças Armadas em cargos de poder não afeta o país. Os que não souberam responder somam 5%.
O resultado mostra que a tendência de recuperação na imagem dos militares após o pico da pandemia, quando a avaliação negativa de integrantes das Forças Armadas no governo chegou a 52%, se inverteu.
Os dados foram coletados de 24 a 26 de abril de 2022, por meio de ligações para celulares e telefones fixos. Foram 3.000 entrevistas em 283 municípios nas 27 unidades da Federação. A margem de erro é de 2 pontos percentuais. O intervalo de confiança é de 95%. O registro no TSE é BR-07167/2022.
“Isso não atinge os generais”
Em entrevista ao Brasil de Fato, o sociólogo Paulo Ribeiro da Cunha, autor do livro Militares e Militância e ex-assessor da Comissão Nacional da Verdade (CNV), comentou os “escândalos” envolvendo compras das Forças Armadas, como nos casos do Viagra e das próteses penianas.
“[Isso] Está pegando na imagem das Forças Armadas. O próprio general Santos Cruz já está vindo à tona o tempo todo para tentar se descolar dessas compras de Viagra, de picanha, de próteses penianas. Outro dia estava conversando com amigo meu das Forças Armadas, ele falou: ‘É duro ouvir as piadinhas que rolam por aí'”, afirmou.
“Isso não atinge os generais, que estão lá em cima, no Olimpo, mas atinge essa grande maioria que tem que responder no boteco da esquina, nas conversas. É indefensável. E isso pega a imagem deles. Era uma imagem muito positiva no período anterior ao governo Bolsonaro”, disse Cunha.
Além do Viagra: uso de recursos do SUS
O uso de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) pelo Ministério da Defesa bateu recorde no governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). As informações constam em documento divulgado pela Comissão de Orçamento e Financiamento do Conselho Nacional de Saúde (CNS) em fevereiro deste ano.
Em 2019, o valor anual de verbas do SUS direcionadas à saúde dos militares foi a R$ 350 milhões. Dois anos depois, em 2021, a cifra chegou a R$ 355 milhões, quebrando novamente o recorde da série histórica, de 2013 a 2021. O governo Bolsonaro dedicou, em média, R$ 325 milhões por ano ao Ministério da Defesa.
Na gestão da presidente Dilma Rousseff (PT), a média anual do uso de recursos do SUS pelos militares era de R$ 88 milhões, considerando o período analisado, de 2013 a 2015. Sob o comando de Michel Temer (MDB), o valor já havia dado um salto, com média de R$ 245,5 milhões anuais.
O levantamento foi divulgado em uma publicação sobre a evolução dos gastos federais do Sistema Único de Saúde, produzida pelo CNS, órgão que reúne representantes da sociedade civil e do poder público. Clique aqui e faça o download da íntegra do boletim.
(Texto originalmente publicado em BRASIL DE FATO)