A publicação de Lula na capa da Time – revista das mais importantes do mundo – não é só reconhecimento internacional da relevância do petista.
O planeta e a história já sabem disso.
Mas realça o abismo entre a realidade e a banda podre da mídia brasileira – atolada em ódio, cegueira e estupidez.
O antipetismo cevado como arma das classes dominantes contra o interesse popular colonizou o jornalismo das grandes redações e implodiu o senso crítico, a percepção do real, a capacidade de identificar e hierarquizar importâncias – e tudo ruiu em uma geleia geral de insensatez.
A degeneração moral, ética, cognitiva e profissional é ainda mais gritante quando se contrapõe o caldo da mídia nacional à capa da Time.
Como pode Lula “não ser player” – segundo uma jornalista expoente da mediocridade – se o mundo o reconhece? Como pode ser “extremista inconsequente” se o mundo o admira tanto? A expressão “escolha difícil” vira agressão diante do reconhecimento lá fora.
A reação dessa turma à decisão editorial da revista acentuou a indigência predominante no noticiário nacional.
Atormentados pela edição e movidos por um cinismo habitual, muitos se apressaram para desqualificar a Time – mesmo desmentidos pelas próprias loas recentes à revista.
Veículos hegemônicos da mídia corporativa recortaram trechos da reportagem para extrair um viés negativo e sumariamente condenar o pensamento lulista sobre o mundo.
Analista de um jornal “a serviço da democracia” chegou a equiparar a análise dele sobre a guerra na Ucrânia à declaração “fora de hora” sobre aborto para sugerir verborragia insensata do ex-presidente.
É urgente sublinhar: o jornal trata a preocupação de um ex-presidente sobre uma questão de saúde pública cercada de machismos como “erro”.
Acerto seria ocultar e adiar o problema sob o qual padecem grávidas sem assistência sentenciadas ao descalabro de clínicas clandestinas para cessar a gravidez indesejada?
A onda subjacente de absurdos à publicação escancara o óbvio: a mídia brasileira é um fiasco retumbante por ignorar, diante do nariz, o estadista com importância ímpar para o mundo.
Essa invisibilização (fracassada) de Lula perseguida pela fração abjeta da imprensa é o elo indisfarçável de obscurantismo e negacionismo com o bolsonarismo.
Ambos se insurgem contra ONU, Time e organismos internacionais para refutar a realidade e forjar uma alienação venenosa ao Brasil.
São chorume do mesmo saco.