Novo relatório da Oxfam mostra como bilionários lucraram na pandemia às custas de milhões

Os 2.668 bilionários do mundo hoje – 573 a mais que em 2020 — têm uma fortuna que chega a US$ 12,7 trilhões, um aumento de US$ 3,78 trilhões em relação a março de 2020.

Atualizado em 23 de maio de 2022 às 12:02

O mundo poderá ter um milhão de pessoas empurradas para a pobreza extrema a cada 33 horas em 2022, quase a mesma velocidade do surgimento de novos bilionários durante a pandemia (um a cada 30 horas). O novo estudo da Oxfam Lucrando com a dor, lançado neste domingo (22/5) às vésperas da reunião presencial do Fórum Econômico Mundial em Davos (Suíça), revela ainda que O total de 2.668 bilionários do mundo – 573 a mais que em 2020 — tem uma fortuna que chega a US$ 12,7 trilhões, um aumento de US$ 3,78 trilhões.

A riqueza total dos bilionários do mundo é hoje equivalente a 13,9% do PIB global – quase três vezes maior do que o verificado em 2000 (4,4%).

“O aumento das fortunas de um pequeno grupo de pessoas enquanto a maioria da população do mundo enfrenta o drama da fome, falta de acesso à saúde e à educação, falta de perspectiva de vida, é aviltante. Os valores humanos estão escorrendo pelo ralo dos privilégios e da concentração de renda, riqueza e poder”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.

“Esse aumento desproporcional da riqueza de poucos não é celebrável. Ao contrário, é um sinal de alerta, de urgência para que algo seja feito a fim de recolocar a humanidade nos trilhos da inclusão de todos e todas, e de resgate da dignidade de cada pessoa, independente de cor, raça/etnia, gênero, orientação sexual, religião, lugar de origem e território que habita”, diz Katia Maia.

O estudo da Oxfam também revela que as grandes empresas dos setores de energia, alimentação, tecnologia e medicamentos tiveram lucros acima da média, ao mesmo tempo que salários ficaram estagnados e os trabalhadores tendo que encarar a alta nos preços dos produtos básicos.

Setores que mais lucraram: energia, alimentos, tecnologia e medicamentos

Energia: Cinco das maiores empresas de energia (BP, Shell, TotalEnergies, Exxon e Chevron) tiveram US$ 82 bilhões de lucro em 2021 – cerca de US$ 2.600 a cada segundo. Nesse ano, essas empresas pagaram US$ 51 bilhões de dividendos a seus acionistas. Isso significa que 63% de seu lucro líquido foi diretamente para os acionistas.

Alimentos: Os bilionários desse setor tiveram sua riqueza coletiva aumentada em US$ 382 bilhões nos últimos dois anos – um aumento de 45%. Durante a pandemia 62 novos bilionários surgiram no setor. Juntamente com apenas outras três empresas, a família Cargill controla 70% do mercado agrícola global. Em 2021, a Cargill conseguiu seu maior lucro na história – US$ 5 bilhões – e deve bater essa marca em 2022. A família Cargill, sozinha, tem mais de 12 bilionários – eram 8 antes da pandemia.

Medicamentos: A pandemia ajudou a criar 40 novos bilionários na indústria farmacêutica. Empresas como Moderna e Pfizer estão lucrando US$ 1.000 a cada segundo graças ao monopólio que têm sobre as vacinas de Covid-19, apesar de o desenvolvimento desses medicamentos ter sido financiado com bilhões de dólares de dinheiro público. Essas empresas cobram dos governos valores até 24 vezes maiores do que o custo de produção desses remédios.

Tecnologia: A indústria do setor produziu alguns dos homens mais ricos do mundo. Cinco das 21 maiores empresas existentes hoje são companhias de tecnologia (Apple, Microsoft, Tesla, Amazon e Alphabet). Essas cinco empresas lucraram US$ 271 bilhões em 2021, quase o dobro do resultado obtido em 2019 (antes da pandemia).

“Os super-ricos e poderosos estão lucrando com a dor e sofrimento das pessoas. Isso é inadmissível. Alguns ficaram ricos negando a bilhões de pessoas o acesso a vacinas, outros explorando a alta dos preços da comida e da energia”, afirma Katia Maia.

  • Os 10 homens mais ricos do mundo têm mais riqueza do que a combinação de 40% da população mais pobre (equivalente a 3,1 bilhões de pessoas).
  • A riqueza dos 20 maiores bilionários do mundo é mais alta do que o PIB de todos os países localizados na região da África Subsaariana.
  • Um trabalhador médio que está entre os 50% mais pobres da população mundial teria que trabalhar 112 anos para ganhar o que alguém que está no topo da pirâmide recebe em apenas 1 ano.

A Oxfam recomenda:

  • Introdução de taxas sobre lucros extraordinários dos bilionários para financiar apoio às pessoas que enfrentam os altos custos de energia e alimentação pelo mundo, bem como uma recuperação justa e sustentável da pandemia. A Argentina adotou uma taxação especial, chamada de “imposto dos milionários” e agora pensa em criar uma nova taxação, desta vez mirando os lucros obtidos por empresas de energia, e também sobre bens não declarados que estão foram do país, para pagar a dívida com o FMI.
  • Acabar com o lucro sobre a crise introduzindo um imposto temporário sobre lucro excedente de 90% das grandes corporações. A Oxfam estima que, se aplicado às 32 empresas que mais lucraram em 2020, esse novo imposto poderia gerar US$ 104 bilhões.
  • Criação de impostos permanentes sobre a riqueza para regular a extrema riqueza e o poder dos monopólios, bem como reduzir as altas emissões de carbono dos super-ricos. Um imposto anual sobre os milionários começando em apenas 2%, depois 5% para bilionários, poderia gerar US$ 2,52 trilhões por ano – o suficiente para tirar 2,3 bilhões da pobreza extrema, produzir vacinas suficientes para o mundo e oferecer serviços de saúde e proteção social para todos os habitantes de países de renda baixa e média.

Publicado originalmente no site Oxfam Brasil

Clique aqui para se inscrever no curso do DCM em parceria com o Instituto Cultiva

Participe de nosso grupo no WhatsApp clicando neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link