O velho e feioso Minhocão vai deixar de ter carros circulando e pode até ser demolido. Ou não. É o que diz o novo Plano Diretor da cidade de São Paulo aprovado recentemente pelo prefeito Fernando Haddad.
O artigo 375 da lei 16.050 do Plano Diretor Estratégico reza que “uma lei específica deverá ser elaborada determinando a gradual restrição ao transporte individual motorizado no elevado Costa e Silva, definindo prazos até sua completa desativação como via de tráfego, sua demolição ou transformação, parcial ou integral, em parque”.
Um parque, por que não? Para que gastar dinheiro demolindo um viaduto de quase 3,5 quilômetros que custou milhões? A polêmica está instalada. Há quem deseje ver o monstrengo de concreto no chão. Como paulistano voto pela criação de um belo jardim suspenso. São Paulo e os paulistanos merecem esse mimo.
A ideia não é nova e é ótima. Os novaiorquinos que o digam. Em 2009, a cidade de Nova Iorque inaugurou o seu High Line Park. É um longo parque verdejante construído sobre os trilhos de uma velha e desativada estrada de ferro elevada. Ao longo dos 19 quarteirões por onde passava a linha abandonada era um caminho sombrio e esquecido na metrópole.
Hoje o High Line Park enche de verde e luz a Nova York por 2, 5 quilômetros de extensão, a 8 metros de altura. Ao longo desse trajeto há muitos jardins, bancos e espreguiçadeiras, guarda-sóis, hortas comunitárias e uma longa pista para caminhadas. Enfim, um oásis para a população esquecer o estresse da metrópole, ler um livro, bater papo, curtir apresentações artísticas, fazer nada.
Mais interessante: o High Line Park tornou-se realidade pela vontade da própria população de Nova Iorque. À época de sua implantação e posterior ampliação, mais de cem voluntários se dispuseram a ajudar no plantio de mudas. Os moradores da cidade também criaram um site onde mantêm informações sobre o parque e um calendário de eventos.
Já temos provas de que os paulistanos adorariam ver seu High Line Park sobre o Minhocão. Nos últimos anos, o elevado tem sido fechado aos domingos para servir como área de lazer. Com sucesso. No início de 2014, uma piscina de 50 metros de extensão e 30 centímetros de profundidade foi montada pela artista plástica Luana Geiger, como parte dos eventos da 10ª Bienal de Arquitetura de São Paulo. Fez a alegria de muita gente durante os dias quentes e secos de verão na cidade.
Se a ideia de um parque no Minhocão vingar, que os paulistanos tenham também o direito de escolher um novo nome para a obra. Tão feio e sombrio quanto o Minhocão é o nome oficial que lhe deram: Elevado Arthur da Costa e Silva. Infeliz homenagem ao presidente da República que, durante o auge da ditadura, baixou o Ato Institucional número 5 – o terrível AI-5 – que cassou direitos políticos dos cidadãos brasileiros.