O tucano gaúcho que tentou aplicar o golpe em João Doria é orientado agora a voar em direção ao ninho precário que está sendo preparado para Simone Tebet. Eduardo Leite, o predador, não consegue parar.
Está em fermentação a ideia de que logo Simone será considerada inviável como nome da terceira via, e Leite ressurgirá como alternativa do PSDB, ocupando o lugar que ficou vago com a renúncia de João Doria.
Leite talvez seja o produto mais bem acabado da índole e da degradação da direita que ajudou a inventar Bolsonaro e tenta, no desespero, se reinventar.
O gaúcho é o candidato do ex-senador José Aníbal, citado como saída para o PSDB em entrevista ao Globo. Aécio Neves, o preposto de Leite desde a origem do golpe contra Doria, ganha um reforço de peso.
Em defesa da ideia de que Simone deve ser arredada para um lado, José Aníbal disse essa frase definidora de Leite:
“Ele não é polarizante; iria trabalhar com todos os brasileiros e não está com A, B ou C”.
Não estar com A, B ou C é um defeito que vira virtude. A questão não é estar ou não estar, mas de infidelidade mesmo.
Leite está e não está desde 2018, quando não estava com Bolsonaro, depois passou a estar fervorosamente. Elegeu-se e não estava mais.
No ano passado, estava com a ala que se preparou, muito antes das prévias, para dar o golpe em Doria, se o governador paulista fosse o vitorioso.
Leite e Aécio fizeram com as prévias do partido o que Bolsonaro tenta fazer com a eleição. Desqualificaram o sistema de escolha do candidato, para que pudessem golpear o colega.
O golpe falhou, Leite tentou se bandear para o PSD, não deu certo, retornou ao PSDB, fomentou a ideia do golpe de novo, desistiu da trama e passou a tentar raptar a candidatura de Ranolfo Vieira Júnior, seu vice-governador, ao governo gaúcho.
Leite não seria candidato a deputado federal ou a senador e se dedicaria a um golpe estadual contra o vice que ele mesmo indicara como pretendente à sua sucessão. Mesmo que tenha dito há muito tempo que jamais concorreria à reeleição.
Mas o golpe no ex-vice-governador ainda não é o desfecho dos seus voos circulares. Com Simone Tebet parada em 2% nas pesquisas, o moço é citado de novo por chefes do partido como nome que pode derrubar a candidatura da senadora do MDB.
E assim caminha a direita. Doria, Sergio Moro, Luiz Henrique Mandetta, Luciano Huck, Simone Tebet, Leite, Tasso Jereissati são sobras alquebradas de um espólio que só mobiliza dúvidas e traições.
Todos estiveram envolvidos no projeto de criação de Bolsonaro, desde antes do golpe de 2016 e da caçada e da prisão de Lula. Todos foram ou estão sendo pulverizados como opções da direita.
Tentam se livrar do genocida, com a ajuda da Globo, da Folha e do Estadão, para dizer que aqui a direita está viva, apesar de ter morrido no Chile, no Peru e agora na Colômbia.
Não há mais tons de cinza no que antes apresentavam como a direita liberal. A direita dessa turma está ameaçada na Bolívia e na Argentina, onde aos poucos vai sendo engolida pelas forças do fascismo.
E nem vamos falar, por falta de espaço e de paciência, de Ciro Gomes e de Luciano Bivar.
Se confirmado, o golpe em Simone Tebet seria o auge da canabalização. O PSDB, caindo aos pedaços, aguarda movimentos do MDB para que a candidatura da senadora seja considerada inviável e os tucanos fiquem com as sobras.
Leite, apresentado como o tucano que ainda pode voar, em meio a aves já sem condições de pouso e decolagem, seria o lego que o PSDB vai colocar de pé, mesmo que fique meio de lado.
A direita, e não só a dita terceira via, tenta fazer um candidato inteiro com pedaços dos que vão tombando. A velha direita é um desmanche.
Publicado originalmente no blog do Moisés Mendes