Alexandre Saraiva, delegado da Polícia Federal e ex-superintendente da corporação no Amazonas, concedeu uma entrevista para a Live da Tarde do DCM TV em que falou de envolvimento de políticos na exploração ilegal do comércio de madeira.
Um espectador da live fez a seguinte pergunta: “Poderia falar um pouco mais sobre a relação de políticos como Carla Zambelli e Ricardo Salles com esses esquemas criminosos com madeira?”
Saraiva respondeu: “Eles fizeram um vídeo de uma grande apreensão de madeira e foram ao local. Carla Zambelli estava lá. Ela, Ricardo Salles e Zequinha Marinho, senador do Pará. Eles e Eduardo Bim, presidente do Ibama. Falavam em abuso de autoridade policial que, no caso, era eu em cima daquele material.
Falavam que aquele material estava ‘estragando’. Eu olhava para aquela pilha de madeira e via uma pilha de mortos. O tanto de árvore abatida dá sim uma tristeza. O ideal seria que isso não acontecesse”.
O jornalista Marcos Uchôa, outro convidado da live, comentou a fala do delegado: “Eu me lembro que ter esses quatro políticos lá, gravando. Temos que entender isso como uma degradação de uma moral média. Um jornalista no Rio estava diante de um policial que prendeu um ladrão perto de um shopping center. O cara puxou o ladrão e o matou atrás da viatura. Na frente de um shopping center.
O cara que faz num local vazio, ermo, sabe que isso é errado. Na frente do shopping, não. Existe um paralelo entre essas histórias. De políticos, da importância de um ministro do Meio Ambiente, que deveria proteger as árvores, de um senador, de uma deputada, que vão defender o indefensável publicamente. O paralelo dos casos é perfeito.
Essas pessoas perderam a noção de decência. Foram ao local para fazer um papelão desses. Um papelão criminoso, com o Ricardo Salles apresentando dados forjados. Se você defende criminosos sem ser advogado de criminosos, o que você é? Patriota?”.
O delegado da PF então completou sua fala. “E ela [Zambelli] era presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara. Com o ministro do Meio Ambiente, um senador e, do outro lado, eu. Imagina a pressão para cima de um servidor público desses? Quem vai achar, dentro do governo, que você está certo? Eu fui massacrado.
Falaram: ‘Saraiva é louco’. Começaram então a destruir a minha reputação, apesar de ter um monte de laudo. Me chamaram de corrupto. Então eu faço um desafio para quem fala isso. Vamos entregar nossos sigilos bancários e ver quem é que sobrevive.
Não entra na minha conta um centavo além do que eu recebo. Desafiei no Twitter o figura lá [Salles]. Pergunta se ele topou? E eles colocaram um sigilo de 100 anos. A regra da nossa Constituição é a publicidade, ainda mais se for sobre meio ambiente.
Se for considerar a Convenção do Rio, que é um acordo internacional, no princípio 15, casos com meio ambiente devem ser públicos. O Brasil é signatário e é lei. Mas é como se não existisse. O governo Bolsonaro faz isso no papel de propósito, sem digitalização”.
Na entrevista ao DCM, Saraiva ainda afirmou que o tráfico ilegal de madeira está ligado com o contrabando de ouro e demais riquezas, que chegam também ao Porto de Santos com anuência de parte das autoridades.
Confira a entrevista na íntegra abaixo. O trecho está em 1:09:04.