Se o assassinato em Foz do Iguaçu foi tratado com falsa simetria por parte da mídia brasileira, não foi esse o tom da repercussão do caso na Europa.

“Um policial seguidor de Bolsonaro mata militante do partido de Lula”, noticia o El Mundo. “O assassinato de um militante de Lula comove os brasileiros”, observa o jornal espanhol.

“A sequência é impactante e preocupa seriamente no Brasil às vésperas das eleições presidenciais de outubro: um seguidor de Lula celebra na cidade de Foz do Iguaçu seu aniversário número 50, convertido numa festa temática em homenagem ao ex-presidente. Um policial federal, partidário do presidente Jair Bolsonaro, passa pelo local onde se celebrava a festa e discute com o homenageado, que vai ao seu carro buscar uma arma”.

“‘Aqui é Bolsonaro’, gritou o policial. Pouco depois, por volta da meia-noite, voltou ao local e disparou até matar o homem que celebrava seu aniversário e que reagiu com sua arma antes de morrer”, relata a reportagem.

O periódico afirma que o presidente brasileiro agravou a situação. “Bolsonaro não ajudou precisamente a baixar o nível de tensão: o presidente demorou 19 horas para expressar seu repúdio e quando o fez pôs lenha na fogueira”.

O jornal de centro-direita observa um contraste entre o campo bolsonarista e seus adversários na reação ao caso. “Enquanto Lula, Ciro Gomes e Simone Tebet condenavam em suas redes sociais o assassinato, também o fazia Geraldo Alckmin, candidato a vice-presidência de Lula. No setor bolsonarista, por outro lado, chamava atenção o silêncio dos filhos do presidente, Flávio, Eduardo e Carlos”.

No artigo assinado por Sebastian Fest, a publicação espanhola relaciona o crime ao contexto de “manifestações a favor do porte de armas”.

“A morte violenta do militante do Partido dos Trabalhadores chegou no final de um sábado que viu partidários de Bolsonaro se manifestando na Esplanada dos Ministérios a favor do porte de armas para uso pessoal”.

O canal de televisão espanhol Antena 3 também repercutiu o caso. “Um policial interrompe aniversário e assassina a tiros um líder do partido de Lula com gritos de ‘Bolsonaro presidente’”.

“Trata-se de Marcelo Arruda, um simpatizante do partido de Lula da Silva que estava celebrando seus 50 anos quando um policial bolsonarista irrompeu em sua festa e disparou contra ele. O agressor já tinha interrompido a festa antes com ameaças e gritos de ‘Bolsonaro presidente’”.

Na reportagem do canal Antena 3 as categorias de vítima e agressor ficam claras. “No vídeo principal da notícia se pode observar como estavam na celebração quando um agente interrompe a festa, começa a disparar e de repente Marcelo Arruda cai no chão. Os presentes tentam detê-lo, mas consegue disparar uma segunda vez. A vítima, no chão, responde com sua arma e dispara no agressor quando ele tenta escapar, que cai no chão ferido. Nesse momento, os presentes dão-lhe pontapés. Os convidados tentam reanimar o agredido sem sucesso. Mas falece em consequência dos disparos”.

O jornal El Periódico também destacou a emoção nacional pelo assassinato do petista. “Comoção no Brasil pelo assassinato de um seguidor de Lula em plena campanha eleitoral”.

Observa a sequência de ataques contra o PT nos últimos dias. “O primeiro alerta de que a campanha eleitoral não seria isenta de perigos veio na quinta-feira, quando outro bolsonarista em um comício de Lula no Rio de Janeiro lançou uma bomba caseira. Ainda que não tenha provocado mortes nem feridos, enviou um sinal de advertência que se materializou no sábado”.

A imprensa francesa destaca a denúncia do PT da morte de um de seus militantes. “O Partido dos Trabalhadores do candidato à eleição presidencial Lula da Silva denunciou domingo o assassinato de um de seus militantes por um apoiador – igualmente morto na troca de tiros – do presidente Jair Bolsonaro, em Foz do Iguaçu”, noticia o Le Figaro.

“O presidente de extrema direita Jair Bolsonaro facilitou o acesso a armas no Brasil desde sua chegada ao poder”, observa. Mesma abordagem do canal BFM TV e do jornal regional Ouest-France.

“Lula denuncia o ‘discurso de ódio’ du presidente”, destaca o Le Parisien.

Em Portugal, o canal de televisão RTP apontou o clima de agressividade em particular contra o Partido dos Trabalhadores. “A pré-campanha eleitoral registra um clima de agressividade com ataques a apoiadores do PT”.

“Este crime está provocando receio em relação ao aumento da violência política à medida que o país se aproxima das eleições de 2 de outubro”, afirma o repórter Pedro Sá Guerra.

“Segundo as informações da Polícia Civil, o suspeito é o polícia Penal Federal Jorge José da Rocha Guaranho, que também acabou por ser morto, na sequência de uma discussão de intolerância política”, relata o Correio da Manhã, um dos principais jornais portugueses.