Recentemente foi divulgado que uma das três empresas responsáveis por 65% do financiamento das campanhas eleitorais dos onze candidatos a Presidência da República é a AMBEV.
Quais seriam os interesses das empresas de cerveja no financiamento de campanha dos candidatos a Presidência, Senado e Congresso Nacional?
Em 1996, a Lei Federal em vigor, Nº. 9.294/1996 que regula as restrições a publicidade de bebidas foi modificada pela “bancada da bebida”, formada por deputados e senadores que representavam o interesse deste grupo. Na época, uma comitiva de artistas, publicitários, esportistas etc, em uma grande articulação das indústrias de cervejas, das agências de publicidade e dos meios de comunicação, compactuaram e pressionaram os parlamentares para que a cerveja não fosse incluída na Lei.
Mesmo contra todos os argumentos do Ministério da Saúde, o lobby venceu, e a Lei excluiu das restrições à publicidade bebidas como a cerveja, cujo teor alcoólico é igual ou inferior a 13 graus Gay-Lussac, permitindo assim, que a “gelada” escapasse das restrições à publicidade da TV, como aconteceu com as bebidas destiladas (whisky,vodca, etc).
Nos últimos 10 anos, o extraordinário investimento em publicidade de cerveja, algo em torno de mais 4 bilhões de reais anuais, e o aumento da renda do brasileiro, ampliaram nacionalmente o consumo de cerveja, especialmente entre jovens e mulheres
A falta de controle federal, estadual e municipal, de regras e penas mais rígidas, fiscalização, culpabilidade, de uma comunicação ética e responsável, aliado a falta de educação, maturidade e responsabilidade de quem dirige embriagado, criaram uma “horda de zumbis” que, como podemos acompanhar diariamente, matam e ferem motoristas, passageiros, pedestres, ciclistas, motociclistas e o que cruzar os seus caminhos
O prejuízo em números de vítimas fatais e invalidez no trânsito é maior do que a soma das mortes causadas pela indústria de cigarro, pelo simples e trágico fato que apenas um motorista alcoolizado, pode eliminar toda uma família.
Anualmente são mais de 100.000 mortos, e em torno de 500 mil vítimas de traumatismo causados por acidentes no trânsito por excesso de álcool no sangue. E os números não param de crescer.
Diante da brutalidade dos números e dos fatos, parte da sociedade civil e do governo, buscam encontrar saídas para estancar esta quantidade absurda de mortos e feridos
Segundo a OMS, Organização Mundial da Saúde, uma das medidas mais eficazes para diminuir as mortes de transito é a regularização da publicidade de cerveja. Não adiantaria colocar apenas uma mensagem no final do texto enquanto se estimula, a qualquer custo, e de qualquer forma, o consumo. O ideal seria, assim como foi feito com o cigarro, banir definitivamente a propaganda de cerveja da Televisão e rádio no Brasil, ou no mínimo regulariza-la.
Mas o desafio é muito grande. O time que representa a indústria de cerveja inclui senadores e deputados, muitos deles donos de concessões de emissoras que recebem parte dos bilhões que são veiculados em propaganda de cerveja, o homem mais rico do Brasil, as redes de TV e Rádio, portais, revistas, agências de publicidade e promoção, as entidades que as representam, como ABAP – (Associação Brasileira das Agências de Publicidade), Conar – (Conselho Nacional de Regulamentação Publicitária), o Sindcerv – (Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja), entre outros.
Nenhuma emissora comercial de TV ou Rádio, permite que se divulgue ou se associe, em seus jornais ou programas de reportagem, qualquer conexão entre violência no trânsito e publicidade de bebidas alcoólicas. Muitas vezes, o próprio programa que denuncia e expõe as tragédias das mortes nas estradas no carnaval é patrocinado por uma empresa de cerveja.
As poucas exceções são os portais independentes, as emissoras públicas, educativas e culturais como a TV Brasil, TV Cultura, TVT – TV dos Trabalhadores, que não precisam do dinheiro dos anunciantes de cerveja e podem se posicionar de forma critica e independente. Mas, infelizmente, é pouco, muito pouco, comparado a audiência dos gigantes da mídia. Está provado que a exposição à publicidade de bebidas alcoólicas está relacionada com um consumo maior e mais precoce, principalmente entre adolescentes e adultos jovens.
Na época em que a propaganda de cigarros era permitida, houve uma grande agência de propaganda que se notabilizou por não atender contas de cigarro e nem por isso faliu ou deixou de prosperar. Se a propaganda de cerveja for regularizada, o país como um todo irá ganhar.
A campanha ”Cerveja Também é Álcool” que propõe a alteração do parágrafo único do artigo 1º da Lei Federal 9.294/96 para que as restrições à publicidade passem a abranger toda e qualquer bebida, com graduação alcoólica igual ou superior a 0,5 grau Gay-Lussac esta disponível na web. Para assinar a petição online, clique https://www.change.org/