“O diferencial da Anitta, neste momento, não está em se aproximar do petismo, mas sim na sua capacidade de dialogar para além da polarização”, avalia analista de dados.
O engajamento da cantora Anitta na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para reocupar o Planalto em 2023 movimentou o cenário político, especialmente nas redes sociais. Levantamentos e mapas de engajamento revelam o poder da parceria. “No resultado de Anitta com Lula é impressionante o volume de novos atores que a cantora carrega consigo para o debate. Isso permite que o cluster ligado ao Lula não dependa mais apenas da polarização com o bolsonarismo para promover determinadas pautas”, avalia o analista de dados Pedro Barciela, em seu blog pessoal, Essa Tal Rede Social.
Ao verificar mapas de interações sobre as eleições no Twitter, Barciela atesta o potencial de “furar a bolha” dos apoiadores convictos e militantes a partir da declaração da cantora. “O diferencial da Anitta, neste momento, não está em se aproximar do petismo ou de qualquer estrutura oficial de campanha. Mas sim na sua capacidade de dialogar para além da polarização, com atores que não se engajam com o debate político regularmente.”
O analista entende que, diante de um cenário com opostos claros, a capacidade de engajamento de uma massa descentralizada pode ser decisiva. “A miríade de clusters e pequenos agrupamentos que Anitta traz consigo é algo muito, muito grande. Pensando em uma eleição polarizada, essa incrível capacidade de disseminar informações, propostas e alternativas pode ter um peso enorme (…). O bolsonarismo segue emulando por meio do volume de conexões (41%) um tamanho que não mais tem nas redes sociais, uma vez que aqui representa apenas 36% dos atores analisados. O cluster ligado ao Lula tem 35% dos atores e o ligado à Anitta tem 19%”.
Sem eficácia
Quando Anitta revelou apoio ao ex-presidente Lula, ela deixou suas motivações claras: a reação necessária à ascensão da violência política e do ódio bolsonarista. Contudo, a cantora sempre manteve postura isenta e posicionamento apartidário. Por isso, ela afirma não ser petista, mas que o momento impõe optar pela via democrática.
O bolsonarismo, então, passou a atacar por este lado. Além de tentar difamar a artista, pessoas ligadas ao presidente, apoiadores e ele mesmo, em suas redes sociais, enfatizaram a postura não petista de Anitta como algo que a desabonasse ou prejudicasse a campanha. Não deu certo.
O projeto de pesquisas políticas, sociais e econômicas nas redes sociais Nós e Conexões avaliou o impacto das mobilizações bolsonaristas. “Alguém que postou uma foto com a estrela do PT e com o nome de Lula perto do seu rosto, realmente pode não ser petista, mas o importante é que ela está petista. E isso foi impulsionado e muito não só no twitter como em outros ambientes digitais (…). O primeiro conjunto de dados que sempre gosto de olhar é o discurso. O que reverberou afinal. E nisso a ideia que foi passada é que Anitta é Lula. E por consequência, é PT. Querendo ela ou não, a associação está feita”, avalia.
Fala, Lula
“Ela gera um buzz ‘contraditório’ a princípio e inverte a lógica dos sinais. Fazendo que grande parte do bolsonarismo, incluindo o próprio presidente divulguem ela. Com isso muitas pessoas fora da bolha PTista vão atrás das redes sociais dela entender o que está acontecendo”, completa.
Quem também comentou o caso foi o próprio ex-presidente Lula, por meio de suas redes sociais. “Anitta, de fato você só declarou seu apoio por mim e sei que não é petista. O PT tem milhões de militantes, simpatizantes e também tem gente que não gosta do partido mas mesmo assim está conosco nesta caminhada, porque precisamos que o Brasil volte a ter democracia e paz.”
(Texto originalmente publicado em Rede Brasil Atual)