Os Correios (ECT) divulgaram uma cartilha sobre como deve ser o comportamento de seus funcionários durante o período eleitoral.
Presidida pelo general da reserva Floriano Peixoto Vieira Neto, a empresa pretende tutelar a comunicação de seus aproximadamente 90 mil subordinados até em seus aplicativos particulares de mensagem.
De acordo com um trecho do documento “Ética no Período Eleitoral”, eles devem abster-se de “fazer piadas de mau gosto, provocações, ironias, “dar indiretas”, enviar “memes” jocosos pelo WhatsApp, Telegram e redes sociais. Essas são formas de comunicação violenta, de comportamento agressivo, que contaminam o clima organizacional.” Veja:
Outra conduta em que há recomendação expressa de evitar-se é a de “entrar em discussões políticas, religiosas ou ideológicas no ambiente de trabalho, que podem levar a conflitos sérios, trazer prejuízos ao desenvolvimento das atividades na Unidade, prejudicar a produtividade e gerar sanções.”
Funcionário ouvido pela reportagem do DCM, que prefere o anonimato com medo de represálias, disse que foi alertado de que o descuprimento dessas “dicas” pode acarretar punições administrativas.
“É um cala-boca. É a primeira vez, em 20 anos, que vejo isso aqui. Estão impondo o silêncio”, afirma.
O documento ressalta a importância do pleito como “elemento fundamental para a sobrevivência do Estado democrático de direito” e relembra que a própria Lei Eleitoral veda diversas condutas aos funcionários públicos, embora consulta ao diploma legal evidencie que debater política não seja uma delas.
O material retoma pontos da Lei 9504/97 que devem reger o comportamento do funcionalismo nestes tempos de campanha: por exemplo, a proibição de usar, em benefício de algum candidato ou partido, os bens móveis ou imóveis pertencentes à empresa. Ao acrescentar uma série de condutas que a própria lei não prevê, fere a liberdade de expressão.
O general Floriano Peixoto Vieira Neto tem relação de mais de 40 anos com Bolsonaro e foi nomeado em junho de 2019 para o lugar do general Juarez Cunha, chamado de “sindicalista” pelo chefe.
No mês anterior, o então presidente da empresa criticou a entrega da estatal à iniciativa privada em audiência na Câmara.
Cientes de que os servidores da empresa vêem na candidatura do ex-presidente Lula (PT) a forma mais eficaz para rechaçar o risco de privatização, a opção pela mordaça foi a mais fácil para a gestão.
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