Desde que decidiu, depois de um jogo contra o Grêmio, denunciar os torcedores que o xingaram de “macaco”, Aranha virou, na mesma medida, heroi e — pasme — vilão.
Dezenas, centenas de pessoas enxergaram na atitude do goleiro do Santos oportunismo, hipocrisia, malandragem e, suprassumo dos argumentos, racismo ao contrário.
Indignados de todos os cantos tiraram do bolso do paletó a história de que “macaco” é um jeito tradicional, milenar, ancestral dos gremistas se referirem aos rivais do Inter. Não vem ao caso o fato de Aranha ser santista.
Para outros tantos, a celeuma se deve ao “politicamente correto”, que ainda destruirá o futebol.
Não vamos esquecer a perseguição que sofrem os “brancos azedos”. Danilo Gentili perpetrou o seguinte raciocínio: “Por minha pele ser muito branca, todas as noites meus colegas de programa me chamam de Palmito. Nunca saiu uma nota sequer em jornal algum. Mas se minha pele fosse negra e me chamassem de Carvão (…), como a maioria de vocês reagiria?”
Aranha prestou um serviço enorme ao se insurgir contra os que o agrediram. Enorme. Suscitou um debate que está longe de acabar.
Deu uma declaração sobre a torcedora Patrícia Moreira. “Do mesmo jeito que ela pediu perdão, estou desculpando, perdoando. Infelizmente, vai ter que pagar”, disse. “Por mim, como pessoa, perdoo, sim. Mas, quando você erra, tem as leis.”
Mas não topou participar de uma reportagem do “Fantástico” em que se encontraria com ela em frente às câmeras para transformar o episódio num show da vida. Pronto.
Aranha, em resumo, não se pôs em seu devido lugar.
No programa “Extra Ordinários”, o escritor gremista e gaúcho — não necessariamente nessa ordem — Eduardo Peninha Bueno achou que Aranha merecia um corretivo:
“O Aranha se comportou como um escroto, não estou falando no momento da denúncia, calma, estou falando antes”, afirmou. “O maior negro que existiu, Nelson Mandela, ficou preso e conseguiu perdoar. […] Ela pediu perdão e ele não deu. Pra mim é um merda que nunca ganhou nada”.
Para gente como Peninha, provavelmente, Aranha e seus colegas devem não apenas ouvir calados qualquer tipo de ofensa, mas compreender que isso faz parte. (O pobre Mandela não merecia ser citado de uma maneira tão abstrusa.)
No domingo passado, Igor Lemos Cajuhy, goleiro do Operário (MT), foi à delegacia lavrar um BO por injúria racial. Igor relatava ter sido chamado por um torcedor do Tombense (MG) de “macaco” e — essa é nova — “Aranha”.
O Brasil dos peninhas conseguiu transformar um jogador negro que cansou de ser destratado por racistas nas arquibancadas num canalha.
Palmas para eles, que eles merecem.