A confirmação da presença do presidente Jair Bolsonaro no Allianz Parque durante o jogo Palmeiras x Goiás, a ser realizado neste domingo (7), em partida válida pelo Campeonato Brasileiro, mobilizou a ala progressista da torcida do time alviverde paulistano.
A reportagem do DCM ouviu representantes de coletivos palmeirenses e todos foram unânimes em expressar o sentimento de que o candidato a reeleição pelo PL não é bem-vindo no estádio do clube do qual diz torcer.
Um dos palmeirenses mais conhecidos das redes sociais, o ativista William de Lucca, disse que a presença de Bolsonaro “é uma vergonha para a história de um time com o Palmeiras”, relembrando o passado do clube: “Foi o time que emprestou seu jornal para comunicar-se com os italianos durante as greves de 1917”, relembrou. O apresentador do podcast “Nos Armários dos Vestiários” lembrou que o Palmeiras participou de um amistoso em 1945 com a finalidade de arrecadar fundos ao Partido Comunista Brasileiro.
O PALMEIRAS NÃO É PALANQUE#PalmeirasNaoÉPalanque
— PorcoÍris ⓟ ?️??️⚧️ (@oporcoiris) August 7, 2022
O coletivo PorcoÍris, ligado ao movimento GLTBQIA+, em nota enviada ao DCM, chamou de “populismo barato” a presença de Bolsonaro no estádio. Leia na íntegra:
“A presença do atual presidente do Brasil no Allianz Parque é mais uma de suas falhas tentativas de populismo barato. Suas mentiras e afrontas contra a saúde e contra o povo brasileiro jamais sairão impunes. O falso torcedor já vestiu diversas camisas de agremiações em busca de uma aceitação que ele jamais deveria ter tido.
O tempo está acabando para ele. As portas irão se fechar, e o tempo tratará de cuidar muito bem dele e de todos os que o acompanham. O Palmeiras não é palanque, muito menos para genocidas. Jamais ouse se chamar de palmeirense, sujeito asqueroso. Ah, e não esqueça de levar seu comprovante de vacina, viu?”
O coletivo Palestra Socialista, representado por João Roberto de Jesus Filho, relembrou o fato de Bolsonaro tentar utilizar-se politicamente do futebol comparecendo a diversos estádios e usando camisas de outros times. Levantamento feito pelo UOL em dezembro de 2020 dava conta de que o mandatário já havia usado pelo menos 80 camisas de times diferentes, sendo que o único clube dentre os chamados ‘grandes’ que não teve seu uniforme envergado por Bolsonaro foi o São Paulo Futebol Clube – especula-se que isso só não aconteceu pelo tricolor do Morumbi ser constante vítima de chacotas homofóbicas por parte dos rivais.
O Palmeiras tem vínculo com a colônia italiana, tendo sido chamado de Palestra Itália até 1942, quando foi obrigado a mudar seu nome pelo fato da Itália estar no polo oposto do Brasil na II Guerra Mundial.
O mandatário, apesar de ter feito toda sua carreira política no Rio de Janeiro, nasceu no município de Glicério, a 487 km da capital do Estado de São Paulo, em uma família de origem italiana, o que torna crível a versão de que ele seria de fato palmeirense, tendo sido seu nome escolhido para homenagear Jair Rosa Pinto, craque que jogava no Palmeiras em 1955, ano de seu nascimento. Apesar disso, Bolsonaro não hesitou em declarar sua preferência pelo Flamengo na final da Libertadores de 2021, visando obter a simpatia dos adeptos da maior torcida do Brasil.
FORA BOLSONARO!
Hoje, nós palmeirenses, acordamos com mais uma provocação do pior ser humano que já comandou esse país depois da ditadura militar que ele tanto ama defender.
Essa escória da humanidade infelizmente eleita para a presidencia da nossa nação comunicou (+) pic.twitter.com/6JA9jAZmKe— Porcomunas (@porcomunas) August 6, 2022
O publicitário Fernando Freitas, um dos líderes do PorComunas, outro coletivo de palmeirenses de esquerda, lembrou o fato de nem sempre o presidente trajar-se com as camisas oficiais dos clubes que escolhe: “”As camisas de camelô que ele usa, de dezenas de clubes, não o torna um “do povo” ou torcedor apaixonado, mas sim, mais uma vez, um contraventor oportunista”.
Hoje é +3 pontos, manter a liderança e vaia no genocida #ForaBolsonaro pic.twitter.com/NYixzFSiep
— Paula. ??☘️ (@truelumina) August 7, 2022
A designer Paula Zanotti, dona de um dos perfis mais ativos do Twitter na abordagem conjunta de temas ligados a política e o Palmeiras, compartilhou um drama pessoal para manifestar sua indignação com a visita não desejada: “O atual Presidente da República representa o oposto do que é a Sociedade Esportiva Palmeiras. Ele riu da morte de mais de 680 mil brasileiros, incluindo meu avô, que me ensinou a ser Palmeirense”, relatou. “O que ele quer fazer no Allianz? Populismo barato porque estamos na liderança, ele não é Palmeirense e torceu declaradamente contra o clube na final da Libertadores. Nunca foi e nunca será bem vindo.”
Mesmo torcedores de rivais históricos do Palmeiras uniram-se em repúdio a essa visita. Professor Geraldo, membro do Coletivo Democracia Corinthiana, lembrou que essa aproximação do presidente com o futebol remete aos tempos da ditadura militar, na qual o futebol era utilizado politicamente. O corinthiano, entretanto, não prevê um dia fácil para Bolsonaro: “Tenho certeza de que ele vai se decepcionar”, antevendo que os coletivos antifascistas vinculados ao futebol podem fazer manifestações na porta contra sua presença e insuflando os torcedores comuns a também protestarem contra a incômoda presença.
Fátima Sanchez, do Bloco Tricolor Antifa, pontuou que o já sempre pouco cortês modo de tratamento dispensado aos torcedores pelos policiais pode ser potencializado pela presença indesejada do ex-Capitão: “ Outra coisa importante a se dizer é que em diversas vezes que Bolsonaro esteve nos estádios, a mando dele a polícia coloca pra fora os torcedores que se manifestam contra ele.”