Vou explicar rapidamente como se analisa uma pesquisa quantitativa (survey). Ao menos, algumas questões centrais. Lá vai:
1) Primeira dica: pesquisa com amostra não é censo. Isso significa que não tem a mesma precisão que uma pesquisa que entrevista 100% das pessoas de quem quero saber a opinião. A distância da pesquisa por amostra e censo é o desvio ou margem de erro.
2) Portanto, quando se afirma que a margem de erro é de 2% (“para mais ou para menos”) o que se está dizendo é que esta é a distância do resultado da pesquisa para um censo. Dentro desta margem, não há nenhuma segurança de resultado correto.
3) Aí, surgem gaiatos dizendo que há “viés de crescimento” ou “viés de queda” dentro da margem de erro !!???! Não existe viés algum dentro da margem de erro porque trata-se de uma zona de dado inseguro.
4) Uma segunda dica: o perfil da amostra (que se encontra no “plano amostral” da pesquisa). Eu defino o perfil de quem vou entrevistar com a amostra: sexo, renda, etnia/raça, região são alguns fatores de definição desta amostra. Esta é a crítica que se fez à pesquisa Quaest.
5) Como já se publicou aqui, no plano amostral da Quaest, quem ganha até 2 salários-mínimos mensais entrou com uma participação de 25% do total de entrevistados. No Datafolha, este segmento de renda perfaz 44% do total de entrevistados.
6) Como sabemos que o perfil do maior eleitorado lulista é o de menor renda, a amostra da Qaest já sai capotando na pista em favor do eleitorado bolsonarista. Mas, como tem “analista” que pouco se importa com plano amostral, já deduziu que o eleitorado lulista minguou em 1 mês.
7) Uma terceira dica é: veja o método de entrevista (o ideal seria estudar a sequência de perguntas, mas já seria muito detalhe para um fio). Se a pesquisa é feita por telefone, elimina os 20% brasileiros mais pobres que não possuem telefone fixo ou celular.
8) A definição de amostra de pesquisa quantitativa segue uma fórmula. Já vimos que a composição depende de variáveis (como sexo, renda etc). Mas, se quiser brincar de montar uma amostra, acesse esta calculadora amostral (dentre tantas): Calculadora Amostral – Comentto
9) Li artigos de jornalistas consagrados que desinformam porque decidiram comentar o que não entendem. Um deles chegou a afirmar que o vento virou. Seria o caso de perguntar qual a biruta que orientou esta conclusão.
10) Em tempos de negacionismo e inflação de informações, nada mais complicado que jornalista buscar likes com conclusões infundadas e sensacionais. Nós, leitores, temos que ter mais cautela que nunca. O show de horrores está apenas começando.